Título: | Ágora esvaziada : a Constituição de 1988 à luz de uma crítica histórico-conceitual da democracia |
Autor(es): | Bento, Lucas Eloi |
Orientador(es): | Silva, Fernanda Lima da |
Coorientador(es): | Queiroz, Marcos Vinícius Lustosa |
Assunto: | Democracia Representação política Constitucionalismo |
Data de apresentação: | 8-Dez-2023 |
Data de publicação: | 30-Jan-2024 |
Referência: | BENTO, Lucas Eloi. Ágora esvaziada: a Constituição de 1988 à luz de uma crítica histórico-conceitual da democracia. 2023. 133 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) — Universidade de Brasília, Brasília, 2023. |
Resumo: | O presente estudo se propôs a examinar a trajetória histórico-conceitual da
democracia desde suas experiências primordiais na Grécia Antiga até as
configurações contemporâneas, sendo desprovido de seu conteúdo político no
curso das revoluções liberais burguesas e do constitucionalismo do século XX.
Investiga-se como o conceito hegemônico de democracia na modernidade
promove o esvaziamento de seu conteúdo político popular, de modo a servir como
instrumento de dominação política das elites, se refletindo no processo histórico
das nações colonizadas, como a experiência brasileira na Constituição de 1988.
Para tanto, constata-se que a noção de governo popular, idealizada pela
democracia ateniense, esteve sujeita, desde o período neoclássico, à
instrumentalização por parte de grupos políticos dominantes, a fim de esvaziar seu
sentido transformador para legitimar sistemas de poder estruturalmente
oligárquicos e excludentes. As revoluções liberais dos séculos XVIII e XIX, ao
instituírem modelos de democracia representativa, preservaram velhas assimetrias
sociais, servindo a projetos coloniais e imperialistas ocidentais, os quais se
baseiam nos ideais liberais de superioridade civilizacional, legitimado por um véu
simbólico de democracia. Após 1945, no contexto da hegemonia estadunidense, o
ideário democrático-liberal foi alçado à condição de modelo civilizatório, sendo
universalizado para endossar intervenções sobre países periféricos e encobrir
relações de dominação geopolítica. Nos países colonizados e periféricos, elites
dirigentes articularam regimes políticos com democracias limitadas, que
resguardavam seus privilégios de classe e raça historicamente estabelecidos em
pactos conservadores. Foi o caso do Brasil, onde, apesar de avanços
institucionais, a Constituição de 1988 teve suas promessas sociais obstaculizadas
pela captura conservadora do processo constituinte, restando intocadas profundas
desigualdades estruturais. Assimetrias sociais de raça, classe e gênero obstruíram
na prática o acesso da maioria da população aos direitos formalmente
consagrados e à arena política. Nesse sentido, objetiva-se reflexionar sobre como
a trajetória histórico-conceitual da concepção de democracia resulta em uma
democracia procedimental, instrumentalizada internamente e no plano geopolítico,
em benefício da acumulação privada de riqueza e poder, demandando superação
de colonialismos políticos e resgate de seu sentido contra-hegemônico de
radicalização participativa e justiça socioeconômica. |
Abstract: | This study set out to examine the historical-conceptual trajectory of democracy
from its primordial experiences in Ancient Greece to its contemporary
configurations, which were stripped of their political content in the course of the
bourgeois liberal revolutions and 20th century constitutionalism. It investigates how
the hegemonic concept of democracy in modernity promotes the emptying of its
popular political content, so as to serve as an instrument of elite political
domination, reflected in the historical process of colonized nations, such as the
Brazilian experience in the 1988 Constitution. To this end, it can be seen that the
notion of popular government, idealized by Athenian democracy, has been subject,
since the neoclassical period, to instrumentalization by dominant political groups, in
order to empty its transformative meaning to legitimize structurally oligarchic and
exclusionary systems of power. The liberal revolutions of the 18th and 19th
centuries, by establishing models of representative democracy, preserved old
social asymmetries, serving Western colonial and imperialist projects, which are
based on liberal ideals of civilizational superiority, legitimized by a symbolic veil of
democracy. After 1945, in the context of US hegemony, the liberal-democratic
ideology was elevated to the status of a civilizational model, being universalized to
endorse interventions in peripheral countries and cover up relations of geopolitical
domination. In colonized and peripheral countries, ruling elites articulated political
regimes with limited democracies, which safeguarded their class and racial
privileges historically established in conservative pacts. This was the case in Brazil
where, despite institutional advances, the 1988 Constitution had its social promises
hindered by the conservative capture of the constituent process, leaving deep
structural inequalities untouched. Social asymmetries of race, class and gender
have in practice obstructed the majority of the population's access to formally
enshrined rights and to the political arena. In this sense, the aim is to reflect on
how the historical-conceptual trajectory of the concept of democracy has resulted
in a procedural democracy, instrumentalized internally and on a geopolitical level,
for the benefit of the private accumulation of wealth and power, demanding the
overcoming of political colonialisms and the rescue of its counter-hegemonic sense
of participatory radicalization and socio-economic justice. |
Informações adicionais: | Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) — Universidade de Brasília, Faculdade de Direito, 2023. |
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