Título: | Controle judicial, regulação e democracia : o caso da política de preços mínimos de fretes rodoviários |
Autor(es): | Bodart, Natália Regina Borges Angelim |
Orientador(es): | Oliveira, Amanda Flávio de |
Assunto: | Supremo Tribunal Federal (STF) Leis - constitucionalidade Política de preços Transporte de carga |
Data de apresentação: | 22-Mai-2022 |
Data de publicação: | 22-Set-2022 |
Referência: | BODART, Natália Regina Borges Angelim. Controle judicial, regulação e democracia : o caso da política de preços mínimos de fretes rodoviários. 63 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) — Universidade de Brasília, Brasília, 2022. |
Resumo: | A Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas foi criada no
Brasil por lei federal (Lei n. 13.703/18) em meio a um turbilhão político iniciado por uma
greve de caminhoneiros que bloqueou importantes rodovias, causou o caos na cadeia de
abastecimento e impulsionou protestos em massa pelo país. As autoridades aprovaram a
lei – em conjunto com subsídios ao preço de combustíveis e outras medidas – para atender
às demandas dos grevistas, fazendo com que o movimento arrefecesse ao final. Muito
embora a medida tenha aumentado o gasto público e os preços aos consumidores, gerando
inflação, foi apoiada pela vasta maioria da opinião pública. Todavia, a referida lei foi
questionada perante o Supremo Tribunal Federal sob o argumento de que o
estabelecimento de um piso de preços viola diversos direitos fundamentais previstos na
Constituição, inclusive a livre iniciativa e a livre concorrência (art. 1º, IV, e 170). O
presente trabalho analisa a possibilidade de o Judiciário invalidar uma lei aprovada pelos
políticos eleitos, que cuida de delicada questão social. Primeiro, discute-se o argumento
contramajoritário em favor do controle judicial de políticas públicas. Anota-se que, de
acordo com a teoria da escolha pública, grupos organizados podem capturar o poder
político para a satisfação de seus interesses particulares em detrimento da maioria, que,
por sua vez, não possui os incentivos necessários para resistir à aprovação de uma
regulação socialmente indesejável. Tendo em vista que o processo democrático é
frequentemente enviesado em desfavor da maioria, o controle judicial pode ser um freio
apropriado na tendência dos agentes eleitos de servir interesses privados e não públicos.
Em segundo lugar, argumenta-se que os Tribunais não deveriam guiar-se pela opinião
pública, visto que esta também pode afastar-se da cuidadosa reflexão dos indivíduos em
uma dada sociedade. Demonstra-se que a opinião pública é influenciada por cascatas
informacionais, polarização política e outros vieses cognitivos significativos. O trabalho
conclui, então, que o Judiciário deveria atuar como um sentinela da legislação baseada
em evidências, pressionando os demais Poderes em favor de práticas regulatórias
melhores e mais transparentes. Em acréscimo, o presente trabalho defende a visão de que
a política de preços mínimos de fretes rodoviários carece de evidências mínimas sobre os
seus benefícios para o bem-estar social, ao passo que há fortes evidëncias de que essa
medida prejudicou consumidores, a sociedade como um todo e os próprios caminhoneiros
autônomos. |
Abstract: | A price floor policy in road freight transportation was introduced in Brazil by
Federal law (n. 13.703/2018) amidst a political turmoil, initiated by a truck drivers’ strike
that blocked major road networks, triggered supply chain chaos, and spurred mass
protests all around the country. The authorithies passed the legislation – along with
subsidies to fuel prices and other provisions – to meet the demonstrators’ demands,
eventually causing the strike to wind down. Although the measure increased public
spenditure and prices to consumers, leading to inflation, it was supported by the vast
majority of the public opinion. However, that statute has been challenged before the
Supreme Court of Brazil on the grounds that a price floor violates multiple fundamental
rights enshrined in the Constitution, including freedom of entrepreneurship and
competition (articles 1º, IV, and 170). This work investigates whether the Judiciary
should strike down the statute given that it was enacted by elected politicians, and
addresses a delicate social issue. First, the countermajoritarian rationale for the judicial
review is discussed. It is pointed out that, according to the public choice theory, organized
groups may engage in rent-seeking to the detriment of the majority, which lacks the
proper incentives to resist a socially undesirable regulation. Since the democratic process
is often biased against the majority, the judicial review may be an appropriate check on
elected officials’ tendency to serve private as opposed to public interests. Secondly, it is
argued that Courts should not be driven by the public opinion, as it may also deviate from
the careful judgment of individuals in a given society. It is shown that public opinion is
influenced by information cascades, political polarization, and other significant cognitive
bias. The work then concludes that the Judiciary should instead act as a sentinel of
evidence-based rulemaking, pushing the other branches of government toward better,
transparent regulatory practices. In addition, this work supports the view that the price
floor policy in road freight transportation lacks minimum evidence of its welfare benefits,
whereas there is strong evidence that the policy has harmed the consumers, the society as
a whole, and even the truckers. |
Informações adicionais: | Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) — Universidade de Brasília, Faculdade de Direito, 2022. |
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