Resumo: | Em “Che Cos’é la Poesia”1, Derrida legou-nos uma concepção bastante interessante da poesia. Para ele, sendo ilusão de uma plenitude, a palavra poética deixa sempre um resto, um resto que resiste e que se ergue altivamente como o segredo, representado pelo ouriço. Um segredo que, enovelando-se sobre si próprio, afigura-se como o próprio gesto da escrita: um segredo partilhado, simultaneamente público e privado, absolvido de fora e de dentro, nem um nem outro, o animal lançado na estrada, absoluto, solitário, enrolado em bola junto de si. Ao falar do ouriço que rola como uma bola na estrada, durante uma viagem que o filósofo fez entre a cidade fortificada e a natureza selvagem, Derrida propõe uma metáfora muito rica que traduz algo de essencial, o impulso à manipulação, ao toque prolongado, que é inerente a toda leitura. Estamos diante de um ouriço verbal, “que gostaríamos de tomá-lo nas mãos e aprendê-lo”, afirma Derrida ao propor esse ouriço como a própria definição de poesia e cuja aparição se dá na rota da tradução, que leva de uma língua a outra. O ouriço poderá ferir como poderá, célere, rolar além da mão. Poderemos soltá-lo antes de apanhá-lo. Em suma, uma vez tocada, a poesia, como o ouriço, lança espinhos para fora, em todas as direções. |