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Título: Sobrevivente, vítima, testemunha : B. Kucinski e o passado irrevogável da justiça de transição
Autor(es): Sousa, Edson Junio Dias de
Orientador(es): Pinto, Cristiano Otávio Paixão Araújo
Assunto: Comissão da Verdade
Justiça de transição
Traumas
Representações sociais
Kucinski, Bernardo 1937 -
Ditadura e ditadores
Brasil - história 1964-1985
Data de apresentação: 2017
Data de publicação: 5-Jan-2018
Referência: SOUSA, Edson Junio Dias de. Sobrevivente, vítima, testemunha: B. Kucinski e o passado irrevogável da justiça de transição. 2017. 78 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
Resumo: O presente estudo busca analisar, desde a perspectiva de vítimas, sobreviventes e testemunhas da ditadura militar no Brasil (1964-1985), a tensão constante e aparentemente indissolúvel entre história, direito e justiça ínsita ao uso da Comissão Nacional da Verdade (CNV) como instrumento institucional para apuração das graves violações de direitos humanos perpetradas por agentes estatais em território nacional no período examinado. Para tanto, explora-se no primeiro capítulo a relação aporética entre catástrofe, trauma e (impossibilidade da) representação de modo a compreendermos a memória do evento traumático enquanto uma busca de compromisso que impacta indivíduos e coletividades, ao passo que se discorre, também, quanto a possíveis diálogos entre literatura e história (compreendidas em seu caráter representacional do passado) como áreas do conhecimento distintas mas confluentes. No segundo capítulo aprofunda-se o dilema sobre como analisar, por meio de comissões da verdade, narrativas produzidas por vítimas, sobreviventes e testemunhas quanto a traumas que parecem desafiar as formas convencionais com que ordenamos (especialmente no direito) o tempo em passado, presente e futuro, destacando-se que a ideia do passado como ausente ou distante, ou de passado e presente como categoriais mutuamente excludentes, não parece dar conta da dimensão ética que enfeixa processos de transição histórico-legais: o passado não está morto, não passou, senão que assombra e perturba vítimas, sobreviventes e testemunhas. No terceiro capítulo, sem abrir mão do palco do jurídico, em realidade, estendendo-o até à cena do trauma, observa-se que a fragmentação da narrativa de vítimas, sobreviventes e testemunhas reflete, a nível de forma literária, a desarticulação primária entre o corpo – aprisionado, mutilado, evadido, vilipendiado – e a linguagem com que o representamos em sua falta, com que o narramos em face do seu desaparecimento, com que, enfim, testemunhamos o presente de nosso passado traumático recalcitrante justamente a partir do espectro de sua ausência: privação de corpos, mas também de relatos que os façam aparecer. Nesse sentido, o testemunho de Kucinski vale essencialmente por aquilo que nele falta ou, de outro modo, pelo que incorpora em si de antagonismos não resolvidos do processo histórico.
Abstract: The present study seeks to analyze, from the perspective of victims, survivors and witnesses of the military dictatorship in Brazil (1964-1985), the constant and seemingly indissoluble tension between history, law and justice inherent to the use of the National Truth Commission (CNV) as an institutional instrument to investigate the serious human rights violations perpetrated by state agents on national territory during the period under review. For this purpose, we explore in the first chapter the aporetic relationship between catastrophe, trauma and (impossibility of) representation in order to understand the memory of the traumatic event as a search for commitment that impacts individuals and collectivities, as well as possible dialogues between literature and history (understood in their representational character of the past) as distinct but confluent areas of knowledge. In the second chapter, the dilemma of how to analyse, through truth commissions, narratives produced by victims, survivors and witnesses concerning traumas that seem to defy the conventional ways which we ordain (especially in law) time in the past, present and the future, emphasizing that the idea of the past as absent or distant, or of past and present as mutually excluding categories, it does not seem to account for the ethical dimension that frames historical-legal transition processes: the past is not dead, has not passed, but it haunts and disturbs victims, survivors and witnesses. In the third chapter, without giving up the legal stage, but extending it to the scene of the trauma, it is observed that the fragmentation of the narrative of victims, survivors and witnesses reflects, in a literary way, the primary disarticulation between the body – imprisoned, mutilated, evaded, vilified – and the language with which we represent it in its absence, with which we narrate it in the face of its disappearance, with which, finally, we witness the present of our traumatic and recalcitrant past precisely from the spectrum of their absence: deprivation of bodies, but also of reports that make them appear. In this sense, Kucinski's testimony is essentially worth for what is lacking in it or, in another way, by what incorporates in itself unresolved antagonisms of the historical process.
Informações adicionais: Trabalho de Conclusão de Curso (graduação)—Universidade de Brasília, Faculdade de Direito, 2017.
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