Resumo: | O presente trabalho apresenta uma reflexão sobre o amor romântico é como herança da era burguesa clássica. Embora seu interesse sociológico resida na qualidade de ideal norteador das práticas contemporâneas, ele certamente porta algumas características que o mantém atado ao contexto histórico e social de sua gênese e consolidação no século XIX europeu. Para antecipar algumas dessas características indispensáveis, temos o arrebatamento (coup de foudre), a ânsia pelo eterno, a exclusividade conjugal, a complementaridade entre os sexos e a oscilação extrema entre alegria e dor. A tese defendida é que essa concepção específica de amor, que unifica o espiritual e o carnal, que apareciam cindidos nas concepções de amor pré-modernas, se disseminou e se consolidou na esteira de um vácuo deixado por aquilo que alguns autores chamam de declínio da esfera pública (HABERMAS, 2003; ARENDT, 2009; SENNET, 1993), bem como a partir de uma necessidade de contraponto estrutural às tendências esterilizantes da “racionalidade-com-respeito-a-fins”, aquele tipo de racionalidade obcecado pelo cálculo incessante dos meios e em detrimento das preocupações finalísticas humanas. No entanto, contemporaneamente, o modelo do amor romântico vem enfrentando resistência por parte de outro modelo de coordenação das condutas amorosas, este de teor mais pragmático e imanente ao mundo cotidiano, o que é chamado provisoriamente de amor administrativo, com características operacionais que lembram bastante a lógica mercantil, mas sem se deixar confundir com a mesma. |