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Título: A devassa irrestrita em dados como verdadeira prática de fishing expedition
Autor(es): Coelho, Heitor de Oliveira
Orientador(es): Dantas, Marcelo Navarro Ribeiro
Assunto: Processo penal
Direitos fundamentais
Busca e apreensão
Data de apresentação: 16-Jul-2025
Data de publicação: 14-Out-2025
Referência: COELHO, Heitor de Oliveira. A devassa irrestrita em dados como verdadeira prática de fishing expedition. 2025. 45 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) — Universidade de Brasília, Brasília, 2025.
Resumo: Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos transformaram profundamente a forma como os indivíduos se comunicam, armazenam informações e interagem socialmente. Nesse novo cenário digital, os dispositivos eletrônicos, especialmente os smartphones, passaram a conter vastas quantidades de dados pessoais, profissionais e sensíveis, funcionando como verdadeiros repositórios da vida privada. Tais transformações colocam em xeque a forma como o processo penal lida com os instrumentos clássicos de produção de prova, exigindo uma releitura crítica dos meios coercitivos de investigação à luz das garantias constitucionais. A busca e apreensão, prevista nos artigos 240 e seguintes do Código de Processo Penal, por restringir direitos fundamentais, é tratada como medida excepcional, condicionada a requisitos objetivos e à necessidade de delimitação de seu escopo. No entanto, observa-se uma crescente banalização dessa ferramenta quando aplicada à apreensão e análise de dados digitais. As ordens judiciais, muitas vezes, autorizam a devassa completa de dispositivos eletrônicos sem estabelecer critérios temporais, materiais ou objetivos que vinculem a diligência ao fato investigado. É nesse contexto que ganha relevo a crítica à prática conhecida como “fishing expedition”, ou pescaria probatória. Trata-se de uma atuação especulativa e generalizada das autoridades investigadoras, sem causa provável ou finalidade definida, na qual se busca, indiscriminadamente, encontrar elementos incriminadores em meio ao vasto conteúdo armazenado nos dispositivos apreendidos. A ausência de delimitação adequada da medida compromete não apenas a validade da prova obtida, mas também valores essenciais do processo penal democrático, como a privacidade, a intimidade e o devido processo legal. Diferentemente da interceptação de comunicações, regulada pela Lei nº 9.296/96, a busca e apreensão de dados armazenados encontra fundamento direto no Código de Processo Penal, sendo certo que o referido diploma processual carece de regras contemporâneas que tratem especificamente dos dados e das provas digitais. Essa lacuna normativa tem gerado possíveis usos abusivos e tensionado os limites da atuação estatal, especialmente quando a análise dos dados apreendidos extrapola os objetivos legítimos da investigação criminal. Nesse cenário, o presente trabalho tem por objetivo analisar criticamente a prática da devassa indiscriminada em dados armazenados como manifestação do fishing expedition no processo penal brasileiro. A partir da diferenciação entre a busca e apreensão de dados e a quebra de sigilo, pretende-se demonstrar os riscos da ausência de escopo objetivo e propor parâmetros jurídicos para limitar essa atuação, com base em princípios como proporcionalidade, legalidade, especificidade e proteção dos direitos fundamentais. Diante desse contexto, o presente trabalho propõe uma análise crítica dos limites da busca de dados digitais no processo penal, com atenção especial ao risco de sua conversão em verdadeira prática de fishing expedition.
Abstract: In recent decades, technological advances have profoundly transformed the way individuals communicate, store information, and interact socially. In this new digital landscape, electronic devices, especially smartphones, have come to store vast amounts of personal, professional, and sensitive data, functioning as true repositories of private life. These transformations challenge how criminal procedure deals with classical tools of evidence production, demanding a critical reassessment of coercive investigative measures in light of constitutional guarantees. Search and seizure, provided for in Articles 240 to 250 of the Brazilian Code of Criminal Procedure, is considered an exceptional measure due to its restriction of fundamental rights. It is subject to objective requirements and the need to define its scope. However, there has been a growing trivialization of this tool when applied to the seizure and analysis of digital data. Court orders often authorize a complete and unrestricted examination of electronic devices without setting temporal, material, or subjective criteria that connect the search to the investigated fact. In this context, criticism of the practice known as a “fishing expedition” becomes particularly relevant. This refers to a speculative and generalized investigative approach by authorities, lacking probable cause or a defined purpose, in which incriminating elements are indiscriminately sought within the vast amount of content stored on seized devices. The absence of proper limitations on such measures compromises not only the validity of the evidence obtained but also essential values of a democratic criminal procedure, such as privacy, intimacy, and due process of law. Unlike the interception of communications, which is governed by Law No. 9,296/96, the search and seizure of stored data is directly based on the Code of Criminal Procedure. It is evident, however, that the legal system lacks contemporary rules to address the collection and analysis of data in digital environments. This normative gap has led to potentially abusive practices and strained the boundaries of state action, especially when the analysis of seized data goes beyond the legitimate aims of criminal investigation. In this context, the present study aims to critically examine the indiscriminate examination of stored data as a manifestation of fishing expeditions in Brazilian criminal procedure. By differentiating between data search and seizure and the breach of confidentiality, the study seeks to demonstrate the risks posed by the absence of an objective scope and to propose legal parameters to limit such practices, based on principles such as proportionality, legality, specificity, and the protection of fundamental rights. It is worth noting that the body of case law surrounding the search and seizure of data was significantly shaped during the so-called Operação Lava Jato, which solidified the understanding that access to data stored on electronic devices once judicially authorized for seizure is not subject to the provisions of Law No. 9,296/96. In light of this context, this study proposes a critical analysis of the limits of digital data searches in criminal proceedings, with special attention to the risk of their transformation into true fishing expeditions.
Informações adicionais: Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) — Universidade de Brasília, Faculdade de Direito, 2025.
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