Poéticas do mar, cantares ibéricos e autoria feminina : sobre o mar em cantigas medievais e na poesia Sophia de Mello Breyner Andresen

Abstract

A coincidência polissêmica do mar enquanto elemento poético chama atenção quanto à sua persistência na tradição poética ibérica, sobretudo no que diz respeito à poesia feminina portuguesa. Contudo, a tradição acadêmica ocidental minguou sistematicamente a voz poética feminina durante o período medieval, o que resultou no apagamento da autoria feminina das cantigas galego-portuguesas (Lemaire, 2014), que amplamente se pautavam numa relação de intimidade plurissignificada com o mar. Nesse lume, o presente trabalho tenciona discorrer sobre a autoria feminina das cantigas de amigo galego-portuguesas a partir da perspectiva da medievalista feminista Ria Lemaire (2014), apoiando-se no mar como fio condutor de uma análise comparativa com poemas selecionados da poeta portuguesa contemporânea Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004). Assim, justifica-se o presente trabalho pela necessidade de se discutir a voz feminina presente numa poética oceânica que persiste através de séculos, comprovada na persistência de pontos comuns entre a poesia andreseniana e as cantigas galego-portuguesas. Esta Monografia aciona, portanto, as teses de Lemaire (2014) e Oliveira (2015) para discutir o papel da mulher no Medievo e a autoria feminina das cantigas; Agamben (2012) e Paz (1994) sobre teoria da poesia; além da crítica especializada em Andresen, no Brasil e em Portugal. Enfim, a partir da análise do mar presente nesse corpus poético, composto por poemas de Andresen e cantigas de amigo galego-portuguesas, revela-se algo em comum que persiste nos timbres femininos através dos séculos.