A complexa relação entre gênero, raça e o uso do crack

Abstract

Quais os repertórios do estado e do terceiro setor no cuidado das mulheres negras em uso de crack? A partir da interseccionalidade de gênero e raça (Collins & Bilge, 2021), observam-se as relações de marginalização atreladas ao consumo de crack no Brasil. Nessa perspectiva, a análise histórica é necessária para o entendimento dos paradigmas que geraram um processo de marginalização de mulheres em uso de crack no cenário nacional. Em suma, o Brasil está inserido num dilema social que afeta as agendas relacionadas à Segurança Pública e à Saúde desde os anos 90, o consumo de crack. Entretanto, essa agenda não utiliza a interseccionalidade como um instrumento de produção de políticas públicas garantidoras de direitos, mas a opressão como ferramenta de resolução de um problema multifatorial. Em consequência das ferramentas de opressão, às mulheres, no geral, são subordinadas a uma sociedade machista e suas consequências, tais como: violações do corpo, dupla jornada, criação dos filhos que sobrecarrega o papel materno. Mulheres negras, por sua vez, além de afetadas pelas desigualdades que perpassam o gênero, são interseccionalmente marginalizadas em detrimento das opressões raciais e de gênero. A partir de revisão bibliográfica e análise documental (Bardin, 1997), visa neste trabalho entender o histórico do processo de marginalização de mulheres em uso de crack no Brasil, compreendendo as interlocuções com a construção de políticas públicas garantidoras de direitos humanos e cidadania.