Variações anatômicas da madeira de Miconia Ferruginata dc. em uma área com e sem ocorrência de queimadas do cerrado S.S.

Abstract

O aumento do número de queimadas afeta significativamente a vegetação do Cerrado, mesmo que ela apresente mecanismos de defesas, como aumento da capacidade de rebrota, caules menores, altura reduzida, proteção de gemas, órgãos subterrâneos com rápido crescimento, e maior espessura de casca, que é uma das mais importantes encontradas no bioma. O objetivo desse trabalho foi o de verificar se houve diferenças anatômicas na madeira da espécie Miconia ferruginata DC. que foram coletadas em uma área de Cerrado s.s. com registro de queima controlada e incêndios ao longo de aproximadamente trinta anos e de outra área sem queimas (designada como controle). Adicionalmente, foi verificada a possibilidade de a espessura da casca ter protegido o câmbio durante a passagem de fogo. Assim, foram coletadas três amostras de madeira do caule principal da área fogo e duas da área controle. Seguindo a metodologia usual para análises anatômicas da madeira, as amostras foram cortadas, fotografadas, medidas e os dados coletados foram analisados estatisticamente no R 4.2.2 e PAST 4.0. As variáveis diâmetro médio de vaso, densidade e área de vaso, frequência e largura de raio foram significativamente maiores na área fogo, entretanto, as variáveis comprimento de vaso e de fibra, e diâmetro da pontoação radiovascular foram significativamente menores. Além disso, observou-se um aumento de 16,9% do diâmetro médio de vaso e de 8,66% na quantidade de vasos solitários, mas houve uma diminuição de 12,43% nos vasos múltiplos de dois e uma diminuição significativa de 21,16% das pontoações radiovasculares nas áreas de fogo quando comparadas com a área controle. Essas modificações, provavelmente, deixaram as árvores danificadas pelo fogo mais suscetíveis à cavitação dos vasos do xilema e a estratégia observada para evitar o embolismo dos vasos condutores foi o aumento do tecido parenquimático dos raios e a diminuição no comprimento dos elementos condutores e das pontoações radiovasculares. Entretanto, mesmo com o aumento das características de vaso, o diâmetro ainda é considerado pequeno (< 100 µm) e de média densidade (20-40/mm²). Todas as três amostras apresentam marcas de fogo em dimensão macro ou microscópica, indicando que as altas temperaturas atingidas durante as queimadas causaram lesão estrutural no câmbio vascular das árvores queimadas. Entretanto, a espessura da casca dos indivíduos da área queimada e da área controle apresentaram valores próximos, sugerindo baixa influência do fogo na plasticidade dessas características para essa espécie.