“As mulheres estão no lugar de cuidado, ainda que seja na ciência que se ocupa do cuidado” : um olhar etnográfico sobre gênero e a epidemia de Zika Vírus a partir dos relatos das cientistas de Recife/PE

Abstract

Entre os anos de 2015 e 2017 uma epidemia se manifestou no Brasil, especialmente no Nordeste brasileiro. Sendo um fenômeno que afetava de forma mais significativa mulheres de classes sociais baixas, o Zika Vírus foi muito estudado por cientistas das mais diversas áreas, reunindo esforços para entender o vírus até então desconhecido em território brasileiro. Em Recife, capital pernambucana, na linha de frente tanto dessas pesquisas quanto do atendimento a crianças nascidas com a Síndrome Congênita do Zika Vírus estavam cientistas e profissionais de saúde mulheres. Com a predominância feminina na Ciência do Zika, foram relatadas, pelas próprias cientistas, especificidades na forma de fazer ciência que se contrapunham à ciência “tradicional”, feita majoritariamente por homens ou equipes mistas. O presente trabalho dedica-se a trazer as histórias e explicações dessas cientistas sobre o entrelaçamento entre gênero e a epidemia do ZV, além de relatos sobre como é conciliar o ambiente doméstico com o mundo acadêmico e científico. Com um olhar etnográfico a partir destas entrevistas, exporei os determinantes sociais e de gênero da epidemia do ZV, bem como os obstáculos que mulheres pesquisadoras enfrentam na produção científica. Como aporte teórico, converso com a Antropologia da Saúde, Antropologia do Gênero e Antropologia da Ciência para embasar os relatos das entrevistadas e recuperar o que já foi escrito sobre o tema.