A utilização de critérios diagnósticos de sepse na atenção primária à saúde e o impacto nos desfechos clínicos : uma revisão rápida

Abstract

Introdução: a Atenção Primária à Saúde (APS), como primeiro nível de atenção e porta de entrada preferencial do usuário ao sistema, deve ser capaz de resolver a maior parte dos problemas de saúde da população, incluindo o atendimento de urgências e emergências médicas. Dentre as condições comumente manejadas, tem-se a sepse, que ainda é pouco reconhecida fora do ambiente hospitalar. Nesse cenário, a adequada avaliação do paciente pelos profissionais que têm o primeiro contato, especialmente médicos de família e clínicos gerais, é fundamental para a melhor conduta e o desfecho do caso. Essa avaliação, idealmente, inclui a coleta da história clínica, o exame físico, a aferição de sinais vitais e a aplicação de critérios diagnósticos para sepse. Objetivo: sintetizar as evidências quanto à utilização dos critérios diagnósticos de sepse pelos profissionais de saúde no âmbito da APS e a repercussão dessa utilização sobre as intervenções realizadas e os desfechos clínicos dos pacientes. Metodologia: revisão rápida da literatura utilizando-se trabalhos publicados nas bases de dados Embase, Lilacs e Scielo. A pesquisa foi realizada com base nas seguintes perguntas: “Os critérios diagnósticos de sepse são conhecidos e utilizados pelos profissionais de saúde que atuam na APS? O uso desses critérios nesse cenário modifica a conduta e o desfecho dos casos suspeitos ou confirmados de sepse?”. Resultados: Foram encontrados 1.942 artigos publicados nas bases de dados Embase, Lilacs e Scielo relacionando sepse aos cuidados primários em saúde, restando, após a aplicação dos critérios de exclusão, 6 artigos. Os desenhos metodológicos variaram entre estudo observacional, projeto de melhoria de qualidade, questionários transversais e coorte retrospectiva. A aplicação dos critérios diagnósticos de sepse na APS interfere no tempo de transporte dos pacientes ao hospital, na chance de atendimento por um médico especialista no ambiente hospitalar, no diagnóstico oportuno de sepse, no tempo de internação, na chance de internação em UTI e na mortalidade. Contudo, somente metade dos profissionais da APS sabem definir corretamente sepse e menos de um terço conhece um dos critérios diagnósticos mais utilizados, o qSOFA. Os aspectos mais considerados para a suspeita diagnóstica de sepse foram o estado geral e o pressentimento (ou intuição). Apenas um quinto dos médicos participantes de uma das pesquisas haviam recebido treinamento em sepse nos últimos 5 anos. Conclusão: a APS também é importante no manejo de urgências e emergências médicas, incluindo a sepse. Mas, para isso, são primordiais o ensino e a capacitação dos profissionais de cuidados primários quanto aos critérios diagnósticos existentes, orientando sobre sua utilização para identificação e manejo oportunos dos casos suspeitos de sepse.