Toda pecuária é insustentável? as práticas tradicionais dos retireiros e retireiras do Araguaia no Bioma Cerrado

Abstract

Este trabalho buscou descrever parte do modo de vida dos retireiros e retireiras do Araguaia. Essa comunidade tradicional tem como base de seu sistema sócio produtivo a criação de gado, o qual é manejado solto às margens do rio Araguaia. Para a realização deste trabalho foi feita uma revisão bibliográfica sobre a temática e a legislação a respeito da situação do território dos retireiros/as. O principal material do trabalho foram as informações coletadas sobre os retireiros e retireiras do Araguaia em rodas de conversa realizadas durante a Vivência Amazônica em 2019, projeto de extensão do Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAz/CEAM/UnB). Posteriormente também foram realizadas entrevistas abertas com lideranças locais para complementar as informações obtidas nas rodas de conversa durante a Vivência Amazônica. Foram ainda utilizados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para caracterização da região. A comunidade dos Retireiros e Retireiras do Araguaia situa-se no município Luciara, Estado de Mato Grosso e foi fundada em 1934, ocupada principalmente para formação de fazendas de bovinos. Os vaqueiros, camponeses que trabalhavam nas fazendas, são os indivíduos que formaram a comunidade de retireiros e retireiras do Araguaia tendo como costume a criação de gado, que segue o movimento das águas, se dividindo principalmente em dois períodos bem marcados: o de seca e o de cheia. Se autodenominam retireiros porque utilizam áreas chamadas de retiros, onde realizam o manejo do gado nos períodos de seca do rio Araguaia e de onde se retira o gado nos períodos de cheia. Esse modo de vida vem sendo ameaçado pela expansão dos latifúndios e do cerceamento das áreas comuns, utilizadas para a criação do gado nos períodos chuvosos. A comunidade passa por dificuldade para ter sua área demarcada, isso porque para a manutenção do modo de vida dos retireiros e retireiras é importante a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), que é a principal luta desses retireiros para manter sua identidade e uma forma de permitir que a prática se perpetue, visando por meio da preservação do ambiente, trazer a sustentabilidade do modo de vida. Destacase que nem toda prática pecuária é insustentável, mas que para a sustentabilidade ocorra é preciso buscar a utilização de diferentes técnicas de manejo, principalmente aquelas que tenham consonância com os ciclos naturais do ambiente.