Resumo: | A chegada da globalização, nos anos 1980, abriu caminho para novos modelos
de negócio, conectou economias pelo mundo e mudou a forma de se produzir e de
consumir, sobretudo no mercado da moda com a criação do fast-fashion, a moda de
rápido consumo. Os consumidores se adaptaram bem à novidade e passaram a
demandar ainda mais produtos por preços cada vez mais baixos. A indústria da moda,
com o propósito de maximizar seu lucro e manter seus preços competitivos, passou a
terceirizar sua produção, instalando suas cadeias produtivas na América Latina e na
Ásia, onde a mão-de-obra era mais barata e as leis trabalhistas mais brandas, ou até
inexistentes. Os resultados desse novo modo de produzir e consumir fizeram da
indústria da moda um dos segmentos com maior incidência de uso de mão-de-obra
em condição análoga à escravidão em todo o mundo, onde homens, mulheres e até
crianças têm sua dignidade humana violada em prol do lucro das grandes empresas
têxteis. A partir dessa realidade de precarização trabalhista, surgiu a necessidade de
entender o que leva o principal agente dessa cadeia, o consumidor, a continuar
comprando produtos que são fabricados em uma realidade tão hostil e degradante.
Decidiu-se, portanto, investigar o perfil de consumo dos participantes, bem como sua
aderência às práticas de consumo consciente, seu nível de conhecimento acerca do
Trabalho Análogo ao Escravo e o impacto que notícias com denúncias de tais práticas
causam no seu comportamento de consumo, tendo a Teoria do Comportamento do
Consumidor e de Consumo Socialmente Responsável (CSR), como a fundamentação
teórica do estudo. Foi realizada uma pesquisa exploratória com delineamento
experimental, com amostra não-probabilística chamada Bola de Neve Virtual, dada a
possibilidade de uma maior abrangência nos perfis dos participantes. A pesquisa
contou com 630 participantes, em 19 estados e no DF, com pessoas entre 18 e 85
anos. Os resultados atestaram que, dentro da amostra analisada, a renda não é um
fator que influencia na aderência às práticas de CSR e que o nível sensibilidade às
questões de exploração do trabalho é a mesma entre homens e mulheres. Em relação
ao impacto das notícias, a principal conclusão é de que não houve discrepância
significativa entre o grupo experimental, exposto às duas notícias-denúncia, e de
controle. Sendo assim, não pôde ser considerado como um fator que tenha
influenciado nas questões reflexivas, nem no modo como o consumidor interpreta a
situação de desvalorização humana a qual os trabalhadores explorados se encontram. |