Resumo: | O drama contemporâneo em Catharsis é uma retomada e ao mesmo tempo uma
ruptura com a dramaturgia clássica. Na peça o título do texto toma vários significados ao
oferecer ao leitor a possibilidade de uma interpretação teatral, medicinal e/ou filosófica do
termo, e ao deixá-lo livre para se questionar: catarse de quem, por quem, para quem?
A história toca no cerne das feridas de uma mãe cujos filhos estão espalhados no
mundo. A personagem principal é a figura de uma ex-rainha e “ex-mulher” (como a própria
descrição das personagens afirma). Ellè simplesmente é. É a rainha-mãe, é a mãe prostituída,
tirânica e, por vezes, amorosa, é a rainha de um reino devastado e que não soube defender seu
reinado contra os invasores. Ela passa por um ritual expurgatório para “enterrar o passado e
renascer para a vida” como afirma o guardião do Oráculo.
Apresentando uma travessia geográfica, histórica e emocional vivida pelos
personagens, o texto mostra vidas exiladas de si mesmas, de seu passado e, por vezes, de seu
porvir. A travessia, segundo Sylvie Chalaye uma figura recorrente do tipo de teatro de
Akakpo, é um canal para entender as metáforas contidas na trama. Prova disso são as histórias
dos personagens Iléfou, Iléki e Ilénoir, três filhos da rainha-mãe que tomaram destinos
diferentes, entretanto carregam protesto, mágoa e reivindicação de uma identidade negada e,
por vezes, reconstruída à força com os tropeços do caminho. São as vozes desses filhos que
remetem à Rainha-mãe seu sofrimento, sua decadência, seu passado lamentável. Também é
por meio dessas histórias que ela relembra a realeza e força contida em suas raízes, em sua
descendência.
A dramaturgia contemporânea discutida na presente pesquisa por meio das obras de
Jean-Pierre Sarrazac e Sylvie Chalaye remete a uma África não televisionada que também se
explica pela reinvenção de sua história (CHALAYE, 2004). O trabalho a seguir propõe uma
análise dessa dramaturgia contemporânea, descrevendo a primeira apresentação da peça feita
no Brasil graças ao grupo En classe et en Scène. |