Resumo: | O presente trabalho tem como objetivo propor uma nova leitura da renomada obra de Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela, publicada em 1958, e reconhecida como inauguradora de uma nova fase do romancista. O romance é um eco do Ciclo do Cacau, formado por três obras: Cacau, Terras do Sem Fim e São Jorge de Ilhéus. Para isso, a teoria utilizada para embasar tal estudo será a do romance histórico, proposta por György Lukács (2011) e Fredric Jameson (2007), que parte da principal premissa de que, para haver romance histórico, é preciso que a vida pública do contexto influencie e interaja de alguma forma com a vida individual das personagens. A partir de aspectos dentro do próprio romance, pode-se visualizar a possibilidade de colocar Gabriela dentro dessa categoria, considerando que Gabriela é uma personagem que evolui juntamente com a cidade de Ilhéus, em que ocorre uma alteração mútua e, por isso, ambas não podem ser dissociadas em hora alguma. Gabriela vai muito além de uma protagonista: a leitura mais minuciosa do enredo permite entender sua ascensão de nível, alcançando o patamar de agente modificador, que atinge esferas sociais e até mesmo políticas dentro do contexto que a cidade de Ilhéus se encontra em 1925, um lugar que cresceu com guerras civis entre jagunços para a conquista de terras, a fim de que os coronéis tivessem onde plantar cacau, grande agente da economia brasileira dessa época. Gabriela, que chega no romance apenas como uma jovem retirante aspirante à cozinheira do bar Vesúvio, divulga seus pensamentos de liberdade, de felicidade sem marido e o desejo do livre arbítrio, que começam a se propagar e atingir as pessoas da região, modificando seus comportamentos, trazendo novos pensamentos à tona e rompendo com um sistema social e político incoerente para tamanha evolução e modernidade que Ilhéus estava vivendo por conta das exportações de cacau. |