Resumo: | No limiar entre a liberdade e a igualdade políticas, o individualismo contemporâneo, em seu culto à liberdade, é responsável pelo esvaziamento da res publica e inchaço da esfera privada. Instituições como "a maioria", "a república" e "o povo" concentram-se agora em um único paradigma: "o indivíduo". A igualdade dos modernos (igualdade formal) fomentou, ela própria, ao fim e ao cabo, um contínuo estreitamento de visões de mundo. A partir dos horizontes da igualdade preparou-se o terreno da liberdade política segundo a necessidade de personalização e reconhecimento, qual seja, num movimento idiossincrático de autoafirmação em oposição à extrema igualdade. A onda individualista rompe, então, com o privilégio à igualdade e, através de lutas intestinas, instaura o primado do indivíduo livre, autônomo, senhor absoluto de si mesmo. O regime democrático declina, pois, suas instituições quando, face ao neoindividualismo, investe em liberdade política, que, ao extremo, transfere do público para o privado a dinâmica do poder. Porém, uma vez esvaziada a res publica, sequer pode-se pensar em Política. Na contramão da despolitização oriunda do paradigma individualista, em seus diferentes matizes, o presente trabalho propõe-se à análise da morte do homo democraticus (e nascimento do homo psychologicus) e a uma busca não exaustiva pela adequada política de Estado. |