Resumo: | Esta monografia discute como a “cultura” local é manejada para promoção do turismo em Timor-Leste tendo em vista os discursos de diferentes atores envolvidos na conformação desse setor econômico. Cultura é tomada aqui como categoria nativa e não como categoria de análise. Utilizo o conceito como ele é apropriado do ponto político, ou seja, como mobilizador de discursos e práticas. Dentre os atores, destaco: o governo e empresariado colonial e seu projeto de desenvolvimento para o país, o governo pós-colonial e o setor privado informados pela concepção desenvolvimentista sustentável em voga para a construção do Estado nacional de Timor-Leste, as ONGs, as agências de viagem, os blogs de turistas, a campanha Do Something for East Timor Now!. Para capturar a pluralidade de vozes, sentidos e significados, a metodologia se baseou em: pesquisa bibliográfica; análise dos anais do Jornal A Voz de Timor disponibilizado nos arquivos da minha orientadora; análise do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Timor-Leste 2011-2030; levantamento de dados nas páginas eletrônicas do Ministério do Turismo, Comércio e Indústria no Timor- Leste;discussão da campanha Do Something for East Timor Now!, do pacote de viagem oferecido pela IntrepidTravel e das narrativas presentes em sites de relacionamento e blogs de turistas. As continuidades e rupturas do fenômeno do turismo no paíssugerem que, no governo colonial, a “cultura” local era mais destacada com suas danças folclóricas e manifestações das mulheres e homens leste-timorenses. No governo pós-colonial, as práticas sociais são menos marcadas e estão inseridas na imagem de povo resistente haja vista a luta pela independência, subsumidas no turismo histórico e cultural. Já a valorização do sagrado, presentes no culto aos ancestrais - crenças Lulik -, aparece no âmbito do turismo religioso. O desenvolvimento sustentável aparece como impulsionador das políticas de turismo no país no governo pós-colonial, o que pode impor como desafio de governo o consentimento ativo das populações locais para os projetos de governo. Tanto no governo colonial quanto no governo pós-colonial, o treinamento dos leste-timorenses aparece como projeto de governo para promoção do turismo no país. O turismo de base comunitária aparece subsumidos nos projetos da ONG Haburas, do pacote de viagem da agência IntrepidTravel e no empoderamento da comunidade local haja vista os esforços da campanha Do Something for East Timor Now!, a qual impõe como objetivo a mudança social. No entanto, também investe na manutenção de certas características culturais para serem objeto de consumo turístico. Há um campo de conflito no modo como a identidade leste-timorense é retratada. Nos projetos turísticos contemporâneos, parece que não se quer reconhecer uma identidade portuguesano país pela agência australiana. Já a emulação de Timor-Leste como um país da CPLP é estratégica em Portugal em razão da ideologia da lusofonia. |