Antes do gênero, a raça : fundamentos para uma pedagogia transviada

Abstract

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem dois objetivos principais. Vou começar pelo segundo, que é propor, como produto, um plano de ensino de Sociologia transversal para os três anos do Ensino Médio, que abarque as temáticas raciais, de gênero e de sexualidade, a partir dos estudos transviados, considerando que é importante que os alunos aprendam acerca destes assuntos para que a Sociologia cumpra com seus objetivos de desnaturalização e estranhamento. O tema central do plano de ensino é o reconhecimento das diferenças. O primeiro objetivo é formular uma teoria das dissidências sexuais e de gênero, que leve em consideração, além do gênero e da orientação afetivo-sexual, a raça, considerando que, no Brasil e em outros contextos colonizados, a raça é a base da experiência de abjeção. O primeiro objetivo oferece avanços teóricos, mas também didáticos-pedagógicos, pois os instrumentos teórico-analíticos construídos podem ser utilizados como material didático do plano de ensino. Utilizei, como pressupostos teóricos-metodológicos e conceituais, a própria Teoria Queer, em especial a teoria da performatividade, e o estudo realizado por Berenice Bento, que demonstrou que, nos contextos colonizados, e, em especial, no contexto brasileiro, as pessoas negras escravizadas eram tratadas com base na abjeção, sendo constantemente desumanizadas e não tendo, portanto, direito a ter uma identidade de gênero, o que evidencia a anterioridade da raça em relação ao gênero. Esse estudo também mostrou, a partir de uma análise historicizada, que as bases racistas presentes na colônia se mantiveram após o fim da escravidão e o fim do período colonial. A partir disso, mostrei que os estudos transviados precisam considerar a anterioridade do marcador racial, porque existe, como herança da escravidão, um “habitus de raça”. Propus, ainda, que as pessoas negras LGBTQIA+ são atingidas por uma dupla performatividade, racial e de gênero, ao passo que as pessoas brancas são atingidas apenas pela performatividade de gênero. Para produzir o plano de ensino, estive baseado, sobretudo, nos instrumentos teórico analíticos que produzi, nas análises realizadas acerca da Base Nacional Comum Curricular, que denunciam seu caráter demasiadamente geral e abrangente, e nas pesquisas que propõe um estranhamento do currículo, que estão baseadas nas relações entre os estudos queer e a educação. Conclui-se que a raça é um marcador anterior aos demais marcadores sociais, e que é imprescindível que o Ensino de Sociologia realize a tradução de teorias complexas, tornando-as mais acessíveis, tendo como objetivo a transformação social.