Análise da qualidade de vida de crianças e adolescentes com constipação intestinal funcional acompanhados em serviço especializado na perspectiva dos seus pais ou cuidadores

Abstract

Introdução: A constipação funcional (CF) é o distúrbio evacuatório mais comum na pediatria, com prevalência global entre 10% e 30%. No Brasil, essa taxa varia de 14,5% a 38,4%. A CF resulta de múltiplos fatores, incluindo dieta, motilidade intestinal, genética, microbiota e aspectos psicossociais. Seu ciclo vicioso, marcado por dor e retenção fecal, pode levar à cronificação, impactando negativamente a qualidade de vida (QV) da criança e de sua família. O diagnóstico é baseado nos Critérios de Roma IV, e suas complicações incluem dor abdominal, incontinência fecal e fecaloma. Objetivo: Analisar a QV de crianças diagnosticadas com CF em um serviço de referência, estabelecendo correlações entre seus desdobramentos e seus possíveis determinantes sociodemográficos. Metodologia: O estudo é observacional e transversal, com uma amostra de 22 pacientes de 5 a 15 anos provenientes do serviço especializado de um Hospital Universitário, com o uso do Pediatric Functional Constipation Questionnaire (PedFCQuest-PR), que foi validado para o português brasileiro, associado a dados adicionais considerados relevantes. A análise estatística foi realizada com o Jamovi, com amostra normal, com base nos testes de correlação de Pearson e de Spearman, e no teste exato de Fisher. Resultados: A prevalência de CF entre os pacientes analisados foi de 23,89%, compatível com a literatura. A amostra foi homogênea em relação ao sexo, mas predominantemente composta por crianças de 5 a 9 anos (68,2%). O estudo também destacou correlações entre fatores emocionais e a gravidade da CF, além do impacto da condição na qualidade de vida das crianças e suas famílias. Conclusões: O estudo confirmou dados da literatura sobre a CF, mas não encontrou correlação significativa entre todas as variáveis, possivelmente devido ao viés amostral. Observou-se que, embora muitos casos iniciem antes de um ano de idade, a maioria das consultas especializadas ocorre após os seis anos, reforçando o papel do pediatra geral e do médico da família no manejo inicial da CF. A capacitação desses profissionais é essencial para diagnóstico e tratamento precoces, minimizando impactos na QV e reduzindo custos para as famílias e o sistema de saúde. Novos estudos são necessários para aprofundar a compreensão da CF na população pediátrica, especialmente no Brasil.