A ciência do (in)visível: analisando a atuação estadual referente à epidemia de Zika Vírus em Recife, PE

Abstract

Em agosto de 2015, começaram a ser registrados nos serviços de saúde da cidade de Recife, Pernambuco, os primeiros casos de microcefalia, que posteriormente seriam reconhecidos como parte de uma síndrome congênita associada ao Zika Vírus. Em outubro de 2015, ao notarem uma quantidade de nascimentos com essa malformação congênita acima da média habitual, duas médicas dirigiram-se à sala do então secretário estadual da saúde para notificar os casos atípicos. Nesse momento, foi iniciada uma resposta científica que envolveu diversos atores do esquema de saúde estadual. Com o objetivo de descrever e entender como a rede de saúde do estado de Pernambuco respondeu à epidemia de Zika Vírus, neste trabalho observei, a partir de entrevistas semiestruturadas com profissionais que trabalharam nesse âmbito e de notícias publicadas pela Secretaria Estadual de Pernambuco, as estruturas (in)visíveis associadas a esse processo e explorei as relações entre os diferentes componentes dessa rede, focando principalmente em como os atores interagiram, como as estratégias foram implementadas e como essa colaboração influenciou os resultados da resposta científica. A partir de uma perspectiva fundamentada em reflexões da Antropologia da Infraestrutura, da Antropologia da Saúde e da Antropologia da Ciência e Tecnologia, contemplei o que considerei ser a infraestrutura tão invisível que muitas vezes é naturalizada como parte intrínseca e como um fato: as informações sobre as patologias da síndrome e as estatísticas epidemiológicas.