"A UNB não é pra trabalhador" : os impactos da dupla jornada de estudo-trabalho na vida de licenciandos em ciências naturais

Abstract

Cidadãos pertencentes às classes populares ainda enfrentam desafios para acessar a educação pública superior e, quando matriculados, também encontram dificuldades para permanecer nos cursos. Muitos desses discentes, principalmente por fatores socioeconômicos, procuram conciliar seus estudos com o trabalho remunerado. Nesse contexto, esta pesquisa teve como objetivo identificar os impactos da dupla jornada de estudo-trabalho na vida de estudantes de Licenciatura em Ciências Naturais. A metodologia adotada foi qualitativa, com delineamento de pesquisa narrativa. Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados um questionário elaborado no Google Docs, composto por quatorze perguntas, e um roteiro de entrevista semiestruturada com dez perguntas. A princípio, o questionário foi aplicado a trinta e dois discentes, porém apenas seis estudantes trabalhadores foram entrevistados para este trabalho. A análise textual discursiva das narrativas teve como objetivo sintetizar detalhadamente as falas dos participantes; após essa etapa, os dados foram organizados em nove categorias. Concluiu-se que a dupla jornada gera tanto impactos negativos quanto positivos na percepção dos entrevistados, como cansaço, frustração, privação de sono, dificuldades para manter uma rotina de autocuidado, mas também realização pessoal. Para aqueles que trabalham na mesma área do curso de graduação, há também maior motivação, melhoria no aprendizado acadêmico e qualificação das práticas profissionais. Assim, verifica-se a necessidade de se desenvolver estratégias para mitigar os riscos de discentes desenvolverem problemas de saúde e/ou terem comprometida a qualidade do aprendizado em função da sobrecarga gerada pela conciliação do trabalho com o estudo. E, de igual modo, mostra-se urgente repensar as políticas de assistência estudantil. A presente pesquisa também abriu pressupostos para que novas investigações sejam feitas sobre a relação entre a dupla jornada de estudo-trabalho e as taxas de evasão no curso.