Entre memórias e raízes : o brotar do ofício do cuidado de um raizeiro

Abstract

Antes da consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, diversas práticas tradicionais de cuidado tiveram um impacto significativo na vida das pessoas. Em algumas regiões do país, é perceptível que esses conhecimentos e métodos estão enraizados na memória coletiva, conforme evidenciado pelos relatos do dia a dia de nossos ancestrais (BORGES, 2007). Nesse sentido, este trabalho procurou compreender a relevância do trabalho dos raizeiros a partir da trajetória de vida de um raizeiro residente na cidade de Novo Gama-GO. A pesquisa implicou na análise de uma narrativa biográfica que explora a ligação da sociocosmologia, o saber tradicional, assim como a falta de conhecimento e o estigma associados a essa ocupação pela medicina convencional. O intuito foi investigar o cuidado e o impacto dos saberes tradicionais por meio da história de vida desse raizeiro, abrangendo a maneira como esse ofício é transmitido e a dinâmica de compartilhamento de conhecimento. Este estudo possui uma abordagem qualitativa e fará uso de técnicas do método etnográfico. Foram realizadas investigações por meio de diálogos e questionamentos que exploraram as experiências, lembranças e sentimentos, tendo como foco verificar como os saberes tradicionais passados por gerações influenciam no processo de socialização e construção do ser. O embasamento teórico deste trabalho se fundamenta nos princípios e abordagens das Ciências Sociais, considerando que, para Clifford Geertz (1989), cultura é uma teia de significados, e é ela que conduz por meio de símbolos as relações e interações humanas. Tudo é símbolo, e eles são repletos de interpretação. Ao longo dessa pesquisa, foi perceptível como o "cuidar" está intrinsecamente ligado à prática de ser raizeiro, e como ela permeia o saber e as relações sociais. É como o preconceito, a demonização perante os detentores de saberes populares, proporcionou um espaço de resistência, solidariedade e união (DEL PRIORE, 1993). Tendo em vista a luta e a resistência de vida desses grupos perante os preconceitos da biomedicina e das igrejas neopentecostais, este trabalho de conclusão de curso busca analisar e interpretar por meio de uma discussão antropológica essas experiências, entendendo as influências interculturais que se dão nesse contexto.