Resumo: | Introdução: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado um transtorno do
neurodesenvolvimento definido por comprometimentos na interação e comunicação
social. Estudos, com o intuito de investigar diferenças no comportamento auditivo e
na função das células ciliadas de crianças no TEA comparadas às com
desenvolvimento típico, levantam a hipótese de que supostas diferenças sensoriais
poderiam explicar comportamentos específicos ao som, presente em grande parte da
população autista. Objetivo: Comparar achados audiológicos em crianças no TEA e
neurotípicas e verificar associações com a presença de hiperacusia. Metodologia: A
amostra contou com 30 crianças, sendo 15 com diagnóstico médico de TEA, de ambos
os sexos, em idade pré-escolar e escolar, de escolas inclusivas ou especiais do DF,
e 15 crianças neurotípicas para controle, pareadas em sexo e idade com o grupo
estudo, de escolas regulares, públicas ou privadas, do DF. Os grupos passaram por
triagem auditiva, contendo a realização do Exame de Emissões Otoacústicas por
Produto de Distorção (EOAPD), aplicação do Protocolo de Avaliação Simplificada do
Processamento Auditivo (ASPA), no qual foi realizado em 28 crianças das 30
participantes. O protocolo inclui as provas de localização sonora com estímulo sonoro
apresentado nas cinco direções, memória sequencial verbal (MSV) e memória
sequencial não verbal (MSNV). Foi realizado um questionário com os pais sobre
comportamentos interligados à queixa de hiperacusia para determinação da sua
presença. Resultados: Foram encontradas diferenças significativas nos
comportamentos auditivos avaliados pelo protocolo ASPA. O grupo TEA apresentou
alteração nas tarefas de MSNV, MSV e na pesquisa do Reflexo Cocleopalpebral. No
teste de emissões otoacústicas por produto de distorção houve diferença significativa
entre indivíduos no TEA e neurotípicos, onde o grupo TEA apresentou amplitude maior
nas frequências mais altas, enquanto o grupo controle apresentou relação sinal/ruído
maior em todas as frequências. Em relação a hiperacusia, foi encontrado que o grupo
TEA apresentou maior escore em relação a comportamentos de hiperacusia.
Discussão: Com base na literatura, o presente estudo corrobora os achados quanto
ao protocolo ASPA, onde foram encontradas diferenças entre TEA e crianças
neurotípicas. Entretanto, no teste EOAPD, no presente estudo nenhuma das crianças
de ambos os grupos apresentaram falha na EOAPD, o que contradiz os achados de
outros estudos que verificaram um percentual de falhas nas emissões otoacústicas. Porém, vai de acordo a literatura ao serem encontradas diferenças entre os grupos. A
hiperacusia apresentou resultados que vão de acordo com a literatura, onde o grupo
TEA apresentou maior probabilidade em apresentar comportamentos de hiperacusia
do que as crianças do grupo controle. Conclusão: Ao comparar os achados
audiológicos das Emissões Otoacústicas por Produto de Distorção, apesar de todas
as relações sinal/ruído serem maiores no grupo controle,o grupo TEA apresentou
maior amplitude em frequências mais altas, o que pode se correlacionar diretamente
com o achado do questionário da hiperacusia. Ao comparar os achados da Avaliação
Simplificada do Processamento Auditivo, o grupo TEA apresentou alterações nas
tarefas de MSNV, MSV e na busca pelo reflexo cocleopalpebral, indicando
dificuldades comportamentais que podem estar associadas ao próprio Transtorno do
Espectro Autista. No questionário de hiperacusia o grupo TEA apresentou um escore
maior, com mais comportamentos de hiperacusia que também é uma das
manifestações comuns no TEA. |