Avaliação de fatores de risco para hipocalcemia após infusão intravenosa de pamidronato dissódico em pacientes pediátricos com osteogênese imperfeita

Abstract

Introdução: A osteogênese imperfeita (OI) é uma condição genética rara do tecido conjuntivo caracterizada por graus variados de fragilidade óssea e vulnerabilidade a fraturas. O tratamento para os pacientes com as formas moderadas e graves de OI utilizado no Setor de Endocrinologia Pediátrica do Hospital Universitário de Brasília (HUB) é a infusão intravenosa cíclica com pamidronato dissódico. A hipocalcemia é um potencial efeito adverso do medicamento, apesar de pouco frequente. Nos últimos anos vem-se observando um aumento no número de pacientes que apresentam hipocalcemia após a infusão do pamidronato em nosso serviço. Objetivos: Descrever o número de pacientes com OI acompanhados no HUB que apresentaram hipocalcemia após infusão de pamidronato no período de novembro de 2022 a novembro de 2023 e avaliar potenciais fatores de risco para essa situação. Métodos: Estudo observacional com braços retrospectivo e transversal. Os dados clínicos (sexo, idade no momento do exame, tipo de OI, idade ao diagnóstico, tempo de tratamento com pamidronato, número de fraturas) e bioquímicos (cálcio, fósforo, fosfatase alcalina, 25-OH-Vitamina D e PTH) dos pacientes foram resgatados de seus registros médicos e um questionário sobre padrão de ingestão de alimentos fontes de cálcio e tempo de exposição à luz solar foi aplicado aos pais ou responsáveis. As variáveis clínicas e bioquímicas foram analisadas e correlacionadas. Resultados: Trinta e três pacientes (19 do sexo feminino) participaram do estudo. Média de idade atual 10,1 ± 3,8 anos, média de idade ao diagnóstico de OI 2,4 ± 3,2 anos, média de tempo de tratamento com pamidronato 7,1 ± 4,5 anos. Ocorreu hipocalcemia em 20% (20/87) das infusões, em 14/33 (42,4%) dos pacientes, sendo 60% dos episódios leves e todos assintomáticos. A ingestão dietética diária de cálcio foi abaixo da recomendada para as respectivas faixas etárias dos pacientes. A calcemia pré-infusão de pamidronato foi a única variável encontrada que mostrou diferença significativa (p=0,047) entre os pacientes que apresentaram episódios de hipocalcemia e os que não apresentaram. Houve correlação moderada positiva (r=0,5, p=0,004) entre calcemia pré-infusão e calcemia pós-infusão, e entre 25(OH)Vitamina D e calcemia préinfusão (r=0,432, p=0,012). Não se encontrou correlação entre ocorrência de hipocalcemia e variáveis clínicas dos pacientes. Conclusão. Neste estudo, observou-se ocorrência de hipocalcemia pós-infusão de pamidronato maior que a descrita em outros estudos, mas não se encontrou correlação entre as variáveis clínicas analisadas e hipocalcemia. Houve correlação positiva entre calcemia pré e calcemia pós-infusão e entre 25(OH)Vitamina D e calcemia pré-infusão. Observou-se um perfil de baixa ingestão de alimentos fontes de cálcio no grupo estudado, mais importante no grupo de adolescentes.