Resumo: | Introdução: Mesmo diante de inovações no âmbito terapêutico, a taxa de mortalidade
associada à infecção em pacientes críticos continua sendo um importante problema de
saúde. Ademais, a variabilidade farmacocinética e fisiopatológica nesses pacientes deve
ser compatibilizada aos antibióticos em uso, como o meropenem que, como é de ação
tempo-dependente, sua fração livre deve estar disponível para ação bactericida por um
intervalo de tempo adequado e suficiente (ƒT) a uma concentração do antibiótico acima
da Concentração Inibitória Mínima (>MIC) (ƒT>MIC) para sua maior efetividade. Essa
abordagem pode ser quantificada em termos de probabilidade de o meropenem se
apresentar em concentrações acima da MIC durante o intervalo de tempo de seu uso
(%ƒT>MIC) através de fórmulas matemáticas que envolvem dados sociodemográficos
e clínicos dos pacientes, aspectos do agente etiológico da infecção e do uso do
antibiótico. Objetivo: Analisar o alcance das metas farmacocinéticas/farmacodinâmicas
(PK/PD) por pacientes críticos em uso de meropenem em um hospital público brasileiro.
Método: Estudo observacional retrospectivo no qual avaliou-se prontuários, prescrições
e laudos microbiológicos de pacientes críticos que fizeram o uso de meropenem no ano
de 2019. Para cada utilização de meropenem foi calculada a probabilidade de atingir o
alvo terapêutico (%ƒT>MIC), tendo como meta para o alcance de fT>MIC o valor de
100,00% do tempo entre os intervalos de dosagem em que a concentração do
meropenem permanece acima do MIC, comparando-se tempos de infusão de 30 minutos
e 3 horas. Resultados: Foram analisados dados de 25 pacientes (mediana de idade de
65 anos; 56,00% de homens) que resultaram em 36 análises quanto ao uso de
meropenem (mediana de 14 dias de uso e de dose de 3 gramas/dia) e 60 laudos
microbiológicos, sendo mais frequentes a Klebsiella pneumoniae (n=18; 30,00%) e o
Acinetobacter baumannii complex/haemolyticus (n=13; 21,67%). Quase todos os
pacientes usaram o meropenem em infusão estendida de 3 horas resultando em uma
mediana para %ƒT>MIC de 121,43% com mínimo de 41,48% e máximo de 256,39%
(para meia hora, a mediana seria de 78,54%, com valor mínimo de 27,37% e máximo
de 200,03%). Em relação aos microrganismos sensíveis ao meropenem, a maior
probabilidade de atingir a meta clínica foi alcançada pela Escherichia coli e o menor
alcance foi observado em relação a Serratia marcescens. Já para os isolados resistentes,
a maior e a menor probabilidade de alcance dos objetivos foram para Acinetobacter
baumannii complex/haemolyticus e para Serratia marcescens, respectivamente. Para as
infusões em 3 horas, a %fT>MIC foi maior para todos os microorganismos, e, para
alguns deles, a %fT>MIC de 100% seria alcançada com a administração do meropenem
em menor tempo. Conclusão: Os resultados mostraram a relevância da análise PK/PD
no manejo do paciente crítico em uso de meropenem para maior probabilidade de
alcance do objetivo terapêutico. Para tal, é essencial compatibilizar características
clínicas, da infecção e do medicamento em um contexto multiprofissional colaborativo
de cuidado ao paciente. |