Uma análise sobre a preferência por marmitas e a recusa ao Restaurante Universitário na Universidade de Brasília, sob a ótica da segurança alimentar e nutricional

Abstract

O presente trabalho se dispõe a analisar as razões pelas quais os estudantes da Universidade de Brasília têm preferência pelo consumo das marmitas vendidas no comércio informal, dentro da universidade, em detrimento à alimentação fornecida pelo Restaurante Universitário. Foi realizada uma pesquisa qualitativa com 17 estudantes de graduação, de cursos diversos, conduzida durante janeiro e fevereiro de 2023, no formato de questionário e feita uma análise das respostas obtidas à luz da Segurança Alimentar e Nutricional, pensando também as categorias comida, tempo, praticidade, gosto, nutrição, variabilidade, familiaridade e a sensação provocada nos estudantes quanto às duas formas de alimentação, de maneira comparativa. Como resultado, percebeu-se que o Restaurante Universitário apesar de garantir o acesso à comida segura e saudável, falha quanto a agilidade no sistema de vendas, que a centralização da alimentação em um edifício obstaculiza o acesso e que o processo de terceirização têm obstruído melhorias quanto à qualidade do serviço prestado, via predominância do desejo de obtenção de lucro por parte de empresas privadas. Em contrapartida, as marmitas sujeitam os estudantes à Insegurança Alimentar e Nutricional, enquanto se consolidam como comércio na universidade, porém têm se tornado mais convidativas para os estudantes pelos cardápios diferenciados e pela redução do tempo gasto para uma refeição. Ao compreender que a alimentação na universidade faz parte de uma política de permanência no ensino superior, são descritas neste trabalho, as possibilidades de reorganização da estrutura de fornecimento alimentar na universidade, propostas de atualizações e melhorias, a partir de diálogos com avanços evocados por novas Leis e os embates que a questão revela, como a compressão do espaço-tempo causada pela sobrecarga de demandas imputadas pela lógica capitalista na vida dos estudantes e como esse processo tem empobrecido a relação com a comida. É reiterada a necessidade de garantia de uma alimentação acessível, de qualidade, em quantidade suficiente, sem a perda de outros direitos sociais, em conjunto com a promoção de educação para alimentação e sustentabilidade da produção ao consumo.