Resumo: | Schleiermacher dá à hermenêutica um caráter universal, aplicando-a não só a textos escritos ou em língua estrangeira, mas a todo e qualquer pensamento expresso por meio de palavras. Um de seus objetivos é dotar a Hermenêutica de um método a ser seguido pelo intérprete para recuperar com precisão aquele pensamento original do autor. Um desses métodos é o que ele chama de divinatório e se baseia na familiaridade do intérprete com o autor do texto. Justamente essa familiaridade é que permitirá ao intérprete uma certeza do pensamento do autor, permitindo, até mesmo, que o intérprete compreenda o texto melhor que seu próprio autor. Já Gadamer irá elaborar uma nova teoria hermenêutica, dando sequência aos pensamentos desenvolvidos por Heidegger. Um dos fundamentos de sua teoria é a relevância dos preconceitos — entendidos como (pré)conceitos ou (pré)juízos — para o processo de compreensão. O intérprete se vale não apenas dos meros conceitos que domina, mas também daquilo que ele tem por verdadeiro, os seus (pré)juízos, contrapondo-os com o que diz o texto. Assume relevância, então, para o intérprete, a pretensão de verdade do próprio texto, independentemente da intenção original de seu autor. O procedimento hermenêutico, assim, se transforma completamente. De uma relação entre intérprete e autor, mediada pela expressão do pensamento em palavras — segundo Schleiermacher — passamos a ter uma relação entre intérprete e texto mediada pelos seus preconceitos. Essa crítica de Gadamer à Schleiermacher é procedente, na medida em que explicita a distinção entre pensamento e sua exposição textual. Em primeiro lugar porque nos parece ser impossível a confirmação de que o pensamento de uma pessoa está completamente aberto à compreensão, como se fosse possível uma conexão entre as consciências do intérprete e do autor. Em segundo lugar porque, estando clara a diferença entre “querer dizer” e “dizer”, parece-nos que a compreensão se dá sempre a partir do dito e do expresso, e nunca a partir do intencionado. _________________________________________________________________________________ ABSTRACT Schleiermacher gives hermeneutics a universal character, applying it not only to written texts or in a foreign language texts, but to any thought expressed in words. One of his goals is to provide hermeneutics with a method to be followed by the interpreter to accurately recover the original thought of the author. One such method is what he calls divination and is based on the interpreter's familiarity with the author of the text. It is precisely this familiarity that will allow the interpreter to a certainty of the author's thinking, allowing even the interpreter to understand the text better than its author does. Gadamer will develop a new hermeneutic theory, giving rise to thoughts developed by Heidegger. One of the grounds of his theory is the relevance of prejudices — understood as (pre)judgments — in the process of understanding. The interpreter makes use of the concepts that he has and also of what he assume it is true, opposing it with the text. It is relevant, then, to the interpreter, the claim to truth of the text itself, regardless of original intent of its author. The hermeneutic procedure thus changes completely. From a relationship between interpreter and author, mediated by the text — according to Schleiermacher —, we have a relationship between interpreter and text itself, mediated by prejudice. This criticism is well founded. In the first place because it seems impossible to confirm that the thought of a person is completely open to understanding, as if it was possible a connection between the conscience of the interpreter and the author of the text. Secondly, because, being a clear difference between "mean" and "say", it seems that understanding always occurs from said and expressed, and never from the intended. |