Cotidiano operário durante a construção de Brasília e o massacre da Pacheco Fernandes em 1959 : memórias em disputa

Abstract

Este trabalho apresenta como era a vida dos trabalhadores que vieram para construir Brasília, também conhecidos como candangos. A realidade enfrentada por aqueles que ergueram a nova capital era muito diferente do que a propaganda oficial divulgava. Segundo os relatos dos próprios trabalhadores, era exigido que trabalhassem por longas horas, podendo chegar até a 24 horas quando necessário, também não havia qualquer higiene nos dormitórios e nas refeições oferecidas pelas construtoras. Outra adversidade enfrentada era a convivência com a Guarda Especial de Brasília (GEB) responsável por garantir a ordem durante a construção de cidade. Essa força policial ficou conhecida pela sua violenta atuação contra os trabalhadores da construção de Brasília, no decorrer dos diversos atritos entre a GEB e os candangos, destaca-se o episódio que ficou conhecido como Massacre da Pacheco Fernandes que ocorreu no dia 8 de fevereiro de 1959. Além de relatar o cotidiano durante a construção de Brasília, este trabalho tem como objetivo analisar as diversas perspectivas sobre esse controverso capítulo da história de Brasília, destacando os depoimentos dos candangos que confrontam diretamente com a versão presente nos documentos oficiais. No conjunto de divergências presentes entre as diferentes perspectivas, a quantidade de mortos se configura enquanto o maior dissenso, pois, enquanto que as fontes oficiais relatam uma única morte, diversos depoimentos apontam para números muito superiores, chegando em até mais de uma centena.