Práticas meditativas e sua relação com o comportamento alimentar, mudanças no peso e saúde mental em adultos de diferentes regiões do Brasil : um estudo transversal

Abstract

O consumo alimentar excessivo é um dos principais fatores relacionados ao desenvolvimento do excesso de peso e obesidade. No entanto, as causas dessa morbidade vão além da elevada disponibilidade calórica atual, podendo ter forte influência de comportamentos alimentares disfuncionais, tais como o comer emocional, comer externo e o descontrole alimentar. Tendo em vista o impacto das questões emocionais quando se trata da obesidade, algumas abordagens terapêuticas atuais já reconhecem a necessidade da incorporação da gestão das emoções e independência nas escolhas alimentares como parte do tratamento bem-sucedido, e a meditação tem ganhado crescente interesse nesse cenário. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes práticas meditativas sobre o comportamento alimentar e peso corporal em adultos de diferentes regiões do Brasil. Para isso, foi aplicado um questionário virtual para avaliação das práticas meditativas, peso atual e pré-pandemia. O questionário foi também constituído por instrumentos específicos e validados para avaliação da imagem Corporal (Escala de Silhuetas), comportamento alimentar (TFEQ-21), qualidade do sono atual (Pittsburgh Sleep Quality Index) e ansiedade (Beck’s Anxiety Inventory). Inicialmente, foram avaliados os dados de todos os respondentes em conjunto (n= 764). A Atenção Plena foi o tipo de prática meditativa mais praticada na maior parte das regiões brasileiras. Foram observados menores scores referentes ao comer descontrolado (CD) (praticantes de meditação = 32,19 ± 19,72; não praticantes de meditação = 35,17 ± 20,50; p = 0,038) e maior perda de peso (praticantes de meditação = -0,77 ± 8,44; não praticantes de meditação = 1,27 ± 6,39; p = 0,013) entre aqueles que praticam algum tipo de meditação. Para verificar a influência do peso sobre os resultados, foram analisados os dados apenas dos indivíduos que apresentaram IMC >25Kg/m2 e observou-se que assim como na população geral, os indivíduos com excesso de peso apresentaram menores scores de CD quando realizavam algum tipo de meditação. Em contrapartida, não foi observada nenhuma diferença estatística entre os praticantes e não praticantes de meditação quando apenas os indivíduos eutróficos foram avaliados. A prática também influenciou a percepção de imagem corporal entre os homens e proporcionou menor score CD do TFEQ-21 e maior perda de peso durante a pandemia entre as mulheres. Entre aqueles que praticam meditação há mais de 13 meses, foi observado um menor score final do instrumento de avaliação da ansiedade comparado com aqueles que praticam há menos de 12 meses (p = 0,002). Os achados indicam que a inclusão da prática meditativa como parte do manejo do excesso de peso pode ser capaz de atuar sobre a redução de comportamentos alimentares disfuncionais e emoções negativas que prejudicam esse processo, contribuindo para a perda de peso, especialmente em longo prazo.