“Na correria”: dinâmicas dos entregadores de aplicativo no espaço urbano do Distrito Federal

Abstract

A uberização do trabalho, fundada na negação de direitos, tem gerado impactos que reconfiguram o mundo do trabalho. Os entregadores de aplicativos, através de um autogerenciamento subordinado às empresas, sofrem com rendimentos incompatíveis aos seus esforços e são responsabilizados pelos riscos que esta atividade oferece. Sem vínculos, essas pessoas transitam e fazem estadia nos mais diversos espaços das cidades, como praças, árvores, estacionamentos, pontos de apoio – de diferentes qualidades, seja em espaços públicos ou privados. Considerando que a falta de um local de referência e de segurança também compõe a precarização do trabalho, o objetivo desta pesquisa foi identificar como ocorrem as dinâmicas de ocupação do espaço urbano por esses entregadores enquanto realizam as entregas. Dinâmicas sendo entendidas como: i) dinâmica da escolha dos locais de entrega; ii) dinâmicas no trânsito; e iii) dinâmicas dos locais de descanso e espera. Como metodologia foram utilizadas quatro estratégias, sendo elas: análise de 39 entrevistas semiestruturadas onlines com entregadores de aplicativo realizadas entre janeiro e fevereiro de 2021; entrevistas semiestruturadas com 11 entregadores em junho de 2023; entrevista com o deputado Fábio Félix, autor da lei dos pontos de apoio no Distrito Federal (DF); e visitas a três pontos de apoio localizados no DF. Os resultados demonstram que a Região Administrativa (RA) do Plano Piloto é o principal local de escolha para realização das entregas, mesmo que a maioria desses entregadores morem em RAs distantes. Os locais ocupados durante as entregas vão de árvores, calçadas e partes de trás de restaurantes aos pontos de apoio institucionalizados no DF. Essas escolhas estão sujeitas aos conflitos com moradores, donos de estabelecimentos e a oferta dos pontos de apoio. No trânsito é onde veem o maior risco para atividade, seguido da exposição à inseguranças e assaltos. Através dos depoimentos e da avaliação da literatura pertinente, pode-se perceber que, ao realizar seu trabalho, esses entregadores impactam na dinâmica dos espaços da cidade, assim como ela impacta nas estratégias construídas por eles. Portanto, é necessário estimular ações e espaços de novos pontos de apoio, das leis de trânsito e de conscientização da população, que garantam a dignidade desses sujeitos enquanto esperam, descansam e realizam entregas.