| Resumo: | Dentre os muitos artistas que pude conhecer e com os quais me encantei durante o
curso, um se destacou de maneira especial. A obra de Tunga, um dos grandes nomes
contemporâneos nas artes plásticas, cuja vida foi encurtada por um câncer, continuou me
fascinando a cada olhar, a cada artigo lido, a cada encontro em exposições. Comecei a ser
seduzido pelo uso de seus materiais preferidos e pelas abordagens recorrentes dos elementos
da sua poética. Havia ali – me parecia – significados profundos, arquetípicos, elementares.
Nesse universo interior, eu viria a descobrir, há muitos conhecimentos sobre a psique humana
arquetípica e as investigações da matéria presentes na alquimia. Essas percepções me levaram a uma série de questões. Quais elementos da alquimia estão presentes na obra de Tunga? A alquimia é realmente um elemento estruturante em sua obra? Em caso afirmativo, em que grau a alquimia é essencial no entendimento do trabalho do artista, servindo como ferramenta para elucidar seu pensamento e sua poética? Em que
medida eu poderia identificar as referências alquímicas que Tunga porventura tenha mencionado ao falar sobre seu trabalho? E, por fim, seu modus operandi teria paralelo com as práticas alquímicas? À medida que comecei a pesquisar com mais profundidade a obra de Tunga, percebi que ele trabalhava de maneira recursiva, explorando incansavelmente e fazendo releituras de seus temas favoritos, expandindo suas criações, elaborando e trazendo mais complexidade formal e maior riqueza de significados em suas obras, que foram muitas vezes integradas em performances dionisíacas. Dentre seus materiais favoritos estão metais, destacando-se o chumbo e o cobre. Em suas performances, os materiais utilizados são muitas vezes
posteriormente deixados à mercê das transformações no tempo, algo mais perceptível no caso
da matéria de origem orgânica, tal como maquiagem, mel, vinho, sopa, cera, peixes etc. Suas
obras – que misturam elementos sólidos, líquidos e gasosos, incorporando as transformações
químicas às quais a matéria está sujeita – parecem apontar para o universo da alquimia e seus
estágios simbólicos da matéria, a saber, nigredo, albedo e rubedo. Meu propósito com esse trabalho de conclusão é saciar minha curiosidade e compreender melhor as dinâmicas criativas da obra de Tunga. Também gostaria de explorar os elementos e símbolos recorrentes em sua criação, analisando suas origens e prováveis ligações com a alquimia. Na certeza de que me será muito útil, pretendo adicionar à pesquisa
elementos de psicanálise junguiana, profundamente marcada por simbologias arquetípicas e
pela alquimia. Como se sabe, Jung foi um dos maiores responsáveis pelo resgate da alquimia
ao fazer paralelos entre as pesquisas destes sábios que buscavam a pedra filosofal e o processo
de individuação, quando o consciente e o inconsciente passam a se relacionar, favorecendo o
potencial criativo e simbólico do indivíduo. |
