Impactos das mudanças do uso e cobertura da terra no estoque de carbono acima do solo da vegetação das Unidades de Conservação de Proteção Integral do Distrito Federal (1990-2020)

Abstract

O desmatamento no bioma Cerrado tem sido considerado um fenômeno antrópico crítico e preocupante nas últimas década no Brasil. A conversão da vegetação nativa do bioma Cerrado em outros usos da terra causa, dentre outros, a perda de diversidade biológica e a destruição de habitats e de espécies endêmicas, além de aumentar as emissões de gases do efeito estufa no Cerrado. Neste contexto, as Unidades de Conservação (UC) desempenham papel importante na conservação da biodiversidade, na manutenção dos recursos hídricos e na redução das emissões do Cerrado. Entretanto, pouco se sabe sobre a contribuição efetiva destas UC na regulação do Carbono, especialmente devido aos altos custos e demanda laboral e temporal para estimar a biomassa baseado em levantamentos de campo. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos das mudanças do uso e cobertura da terra nos estoques de biomassa aérea nas UCs de Proteção Integral inseridas no território do Distrito Federal (DF), entre 1990 e 2020, usando dados de sensores remotos. Para avaliar a mudança de uso e cobertura da terra foram utilizados dados do Projeto MapBiomas (Coleção 6.0) e para estimar a quantidade de carbono da biomassa superficial foram usados dados fornecidos pelo Oak Ridge National Laboratory - Distributed Active Archive Center (ORNL-DAAC), ambos acessados e geoprocessados na plataforma Google Earth Engine (GEE). Os resultados deste estudo mostraram que a formação savânica, os corpos hídricos (rios e lagos) e as áreas úmidas (campo alagado e áreas pantanosas), foram as mais afetadas pelo desmatamento, com perda de 0,2%, 3,1% e 9,7%, respectivamente, enquanto as áreas urbanas aumentaram 141% dentro das UCs no período de estudo. A formação florestal se destacou com aumento de 10,3% e as pastagens, plantios de soja, mosaicos de agricultura e pastagem e outras áreas não vegetadas foram reduzidas em 0,6% entre 1990 e 2020. Embora as perdas de vegetação natural sejam proporcionalmente pequenas, trata-se de UCs de proteção integral onde nenhuma área deveria ser afetada pelo desmatamento, pois têm o objetivo básico e primordial de preservação da natureza. Como consequência da redução da vegetação nativa, observou-se as maiores perdas de biomassa acima do solo entre 2005 e 2010 e entre 2015 e 2020, com reduções de 2.520,84 MgC e 3.354,36 MgC, respectivamente. Os resultados deste estudo contribuem para o melhor entendimento da situação do uso e ocupação do solo nas UCs de proteção integral do DF e seus efeitos nas emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, além de auxiliar na discussão sobre a perda de serviços ecossistêmicos na região de estudo.