Avaliação de remanescentes de fitofisionomias do cerrado impactadas pela supressão florestal

Abstract

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil em extensão e apresenta alta biodiversidade e relevância na oferta de serviços ecossistêmicos. Este bioma é consagrado como a savana com maior riqueza e biodiversidade do mundo, possuindo altos níveis de endemismo. O bioma é considerado um hotspot de vegetação, compreendendo um complexo vegetacional com formações florestais, savânicas e campestres, que se encontram ameaçados principalmente pela geração de energia e produção agropecuária. O trabalho tem como objetivo avaliar a recuperação natural, florística e estrutura da vegetação lenhosa do Cerrado, em ambientes savânicos (cerrado típico) e florestais (cerradão e mata de galeria), após quatro anos de supressão dos indivíduos lenhosos. Cinco áreas conservadas de vegetação nativa localizadas no Distrito Federal foram alvo dessa pesquisa, onde realizaram-se inventários florestais pré e pós supressão. Para a categoria das árvores, foram implantadas parcelas de 10 m x 10 m. Na fitofisionomia Cerrado típico, foram inventariados todos os indivíduos lenhosos com diâmetro a altura de base (aferido a 0,30 cm do solo) maior que cinco (Db ≥ 5), enquanto nas fitofisionomias florestais, todos os indivíduos arbóreos com diâmetro a altura do peito (tomado a 1,30 m do solo) maiores que 5 centímetros (DAP ≥ 5 cm). No primeiro inventário pré-corte realizado em 2019, foi mensurado o diâmetro de cada indivíduo e a altura total dos indivíduos escolhidos para a supressão (por volta de 10 árvores por parcela e em diferentes classes diamétricas), sendo identificadas botanicamente, ao nível de família, gênero e espécie. Para o ano de 2023, o inventário buscou registrar o diâmetro e altura total de todos os indivíduos arbóreos, além de sua identificação botânica. No mesmo ano, foram implantadas subparcelas de 5 m x 5 m e 1 m x 1 m para avaliar as categorias de arvoretas (H ≥ 1 m e D < 5 cm) e regenerantes (H < 1 m), respectivamente. A análise dos dados envolveu a caracterização da composição florística, riqueza e equabilidade das três fitofisionomias do Cerrado em ambos os períodos. Também foram analisadas as variáveis fitossociológicas, como densidade, dominância, frequência e índice de valor de importância, para avaliar a estrutura da vegetação lenhosa adulta. Para as categorias de arvoretas e regenerantes, foram analisadas apenas as densidades das espécies. Os resultados mostraram mudanças na composição florística e fitossociológicas nos diferentes ambientes do Cerrado. Conclui-se que o Cerrado apresenta capacidade de recuperação da vegetação lenhosa após a supressão, porém, o processo de recuperação pode variar entre as fitofisionomias e grau de conservação das áreas estudadas. Com base nos resultados obtidos, foi observado que a família Fabaceae se destacou em número de espécies no levantamento das três fitofisionomias tanto antes quanto quatro anos após a supressão da vegetação. Durante o período monitorado, o cerradão mostrou a maior capacidade de recuperação da florística e da estrutura da vegetação original, enquanto a mata de galeria apresentou perdas mais significativas nesses aspectos. Vale ressaltar que o período de quatro anos após a supressão não foi suficiente para que a comunidade lenhosa das três fitofisionomias conseguisse recuperar o mesmo nível do índice de importância das espécies registrado antes da supressão.