Mal-estar e epifania nos contos Amor, o Búfalo e Perdoando Deus, de Clarice Lispector

Abstract

Este trabalho analisa como o sentimento de mal-estar presente nos contos Amor, O búfalo e Perdoando Deus, da escritora Clarice Lispector, é construído pela linguagem literária como um signo da vida contemporânea. Ao identificar, nas ações e reações das personagens desses contos, os conflitos que geram o sentimento de desconforto próprio da existência moderna, verificou-se que a estetização desses conflitos se vale de estratégias discursivas autorais, principalmente de uma relação dialética apoiada nos sentimentos de mal-estar e de epifania. A pesquisa foi desenvolvida com base na leitura crítica e análise dos contos citados, no estudo de referências críticas sobre a obra da escritora Clarice, bem como sobre os conceitos teóricos acerca do mal-estar propostos por Sigmund Freud e por Zygmunt Bauman e reflexões em torno do processo de epifania propiciadas pelas ideias de James Joyce, na Literatura, e de Friedrich Wilhelm Nietzsche, na Filosofia. A fim de compreender como a construção linguística relaciona o sentimento de mal-estar com o processo de epifania, vivenciados pelas personagens dos contos, foram elaborados dois quadros que expõem palavras e frases que remetem a esses conteúdos, dando a compreender como o campo semântico abarca, na criação literária, ideias da Psicanálise e da Filosofia. Ideias essas que representam o ser humano moderno, fragmentado e em meio a esse conflito entre desempenhar uma vida vibrante e ardente, ou ser civilizado e resignado. As personagens clariceanas revelam essa crise do ser humano contemporâneo e podem ser relacionadas ao que Bauman afirma ao pensar a sociedade contemporânea como inseparável do sentimento de mal-estar.