A palavra como alimento : a revelação da ausência do direito à alimentação na escrevivência de Carolina Maria de Jesus

Abstract

A denúncia da fome enquanto problema político-social adquiriu voz por meio dos textos literários antes do desenho de políticas públicas consistentes no setor ou mesmo da designação de fundamentalidade do direito à alimentação, que ocorreu por intermédio da Emenda Constitucional n. 64, de 2010. Diante da literatura, que carrega valores universais com força humanizadora, há a evocação da consciência e o desmascaramento de realidades subalternas, silenciadas pelo Estado e pelos grupos sociais a frente do poder. Nessa linha, há uma interlocução entre dois campos, o do Direito e da Literatura, utilizando o Direito na Literatura enquanto método que evidencia os problemas político-jurídicos de enfrentamento à fome nos textos literários. A partir disso, apresenta-se o posterior estudo do mosaico alimentar brasileiro realizado por Josué de Castro, bem como uma breve descontínua historiografia de implementação de políticas alimentares. Em análise, elege-se a obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, para a compreensão da dor gerada pela fome e da ausência do Estado na construção de políticas multissetoriais. A autora transforma o lixo em literatura, utiliza a palavra como alimento material e simbólico, tornando-se reconhecida como precursora da literatura periférica.