Ayahuasca : uma revisão bibliográfica sobre a toxicologia e seu potencial terapêutico

Abstract

A ayahuasca é uma bebida vegetal psicoativa sul-americana amplamente utilizada como medicina tradicional e em rituais religiosos. Preparada por meio da decocção do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas de Psychotria viridis, a bebida possui como principais componentes ativos as β-carbolinas harmina, harmalina e tetrahidroharmina (THH), presentes na B. caapi, e do alcaloide N, N-dimetiltriptamina (DMT), presente na P. viridis. Com o objetivo de avaliar sua atividade ou de seus componentes, o potencial terapêutico e efeitos toxicológicos, foi realizada uma revisão da literatura utilizando o banco de dados PubMed, sendo selecionados artigos publicados a partir de 2002. Dos artigos encontrados na base de dados, foram selecionados 10 estudos in vitro, 17 estudos em in vivo e 9 estudos em humanos, sendo 2 artigos com estudos in vitro e in vivo. Os estudos in vitro indicaram atividade antiprotozoária, potencial de neurogênese, neuromodulação e neuroproteção, modificação oxidativa da lipoproteína de baixa densidade e atividade antitumoral. Os estudos in vivo avaliaram a prevenção da perda óssea, a neurotransmissão, sua influência na reabilitação da dependência química e seu potencial na terapia da diabetes. Estudos toxicológicos mostraram que a ayahuasca tem baixa toxicidade aguda e baixo potencial genotóxico após dose única e baixa toxicidade reprodutiva masculina, mas o consumo diário da bebida acima de 2x a dose usual pode ser letal aos ratos. Estudos em humanos avaliaram os efeitos no potencial auditivo, no reflexo de sobressalto, os efeitos neuroendócrinos, imunológicos, cardiovasculares e hepáticos, além da atividade antidepressiva e os efeitos nas medidas psicométricas e regulação do sono/ vigília, indicando que a ayahuasca apresenta efeito decremental do gating sensorial, aumento significativo da pressão arterial diastólica, diminuição do sono REM e aplicação terapêutica promissora antidepressiva em pacientes com Transtorno Depressivo Maior. Apesar das limitações dos estudos, o uso da ayahuasca e de seus componentes isolados, tem se mostrado promissor, direcionando positivamente o rumo de pesquisas futuras na investigação do potencial terapêutico da bebida.