Resumo: | Introdução: A obesidade é definida como acúmulo anormal de tecido adiposo, a ponto de prejudicar a saúde do indivíduo. A cirurgia bariátrica é atualmente aceita como o tratamento mais eficaz nos casos de obesidade mórbida, promovendo perda de peso e diminuindo a incidência de doenças associadas. Após a cirurgia recomenda-se a ingestão de proteínas entre 1,0 a 1,5 g/kg de peso ou mínimo de 60 g/dia, e consumo de energia que promova o balanço energético negativo. Aparentemente, a distribuição de macronutrientes pode alterar o Gasto Energético em Repouso (GER), sendo a proteína a maior responsável pelo seu aumento, o que
contribui para o alcance do balanço energético negativo. Além disso, o consumo adequado de proteína possui influência na composição corporal, principalmente quando se trata da preservação da massa livre de gordura (MLG). Por sua vez, a MLG aparenta ter correlação positiva com o GER. Contudo os estudos que avaliaram a associação entre consumo de proteína, composição corporal e gasto energético em pacientes no pós-operatório de cirurgia bariátrica ainda apresentam resultados divergentes, e poucos estudos foram realizados após 5 anos do procedimento cirúrgico. Com isso, o presente estudo avaliou a associação entre consumo usual
de proteína, composição corporal e gasto energético de repouso de pacientes no pós-operatório tardio de cirurgia bariátrica no Distrito Federal. Métodos: O presente trabalho é um estudo observacional, transversal e analítico, que analisou uma subamostra do Projeto “Consumo alimentar, hábitos de vida, controle de comorbidades e estado nutricional de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica” (Cirurgia e Nutrição no Tratamento da Obesidade – CINTO). A amostra foi composta por pacientes de ambos os sexos, com idade entre 18 e 65 anos, que realizaram bypass gástrico em Y de Roux (BGYR) há no mínimo 5 anos no Distrito Federal (DF), e que obtiveram acompanhamento multidisciplinar no pré e pósoperatório. O perfil sociodemográfico, dados clínicos e cirúrgicos foram obtidos por meio de formulário semiestruturado. Dados antropométricos (peso e altura) e de composição corporal (massa livre de gordura - MLG, massa muscular esquelética -MME, massa de gordura - MG, percentual de gordura corporal - %GC) foram aferidos com estadiômetro vertical milimetrado e bioimpedância tetrapolar. O Consumo de proteína foi obtido pela realização de três recordatórios de 24 horas, em dias não consecutivos e em dias diferentes da semana, considerando o consumo de alimentos, bebidas e suplementos. Para obtenção do consumo usual e correção da variabilidade intrapessoal foi utilizado o Multiple Source Method (MSM). O GER foi medido por calorimetria indireta. Para o teste de normalidade, foi utilizado o método Shapiro-Wilk. Para o teste de diferença entre grupos (consumo < 60 g/dia de proteína e consumo ≥ 60g/dia), foi realizado o teste t de Student para variáveis paramétricas, o de MannWhitney para as não paramétricas, e o de qui-quadrado para as variáveis categóricas. A correlação entre MLG e GER foi feita por regressão linear simples. Valores de p inferiores a 5% foram considerados estatisticamente significantes para todas as análises. Resultados: A amostra foi composta por 122 pacientes, sendo 91% (n=111) mulheres, 54% (n=66) dos participantes realizaram a cirurgia em hospital público. A idade média foi de 49 ± 9,5 anos e a mediana do tempo de cirurgia foi de 9,1 (7,7 - 10,8) anos. A mediana de consumo usual de proteína foi de 71,0 (61,5 - 82,7) g/dia. Pacientes com consumo > 60 g/dia de proteína
apresentaram menor idade (p=0,001) e menor tempo de cirurgia (p=0,04), quando comparados ao grupo dos que consumiram abaixo de 60 g/dia. O consumo energético (p<0,001) e proteico (p<0,001), e o GER (p=0,038) foram maiores para os que consumiram acima dos 60g/dia de proteína. Quando avaliados pela composição corporal (IMC, MLG, MME, MG e %GC), não foi observada diferença entre os grupos. A regressão linear demonstrou correlação positiva entre MLG e GER (p<0,001). Conclusão: A maioria da amostra do presente estudo (79%, n = 96) apresentou consumo adequado de proteína (> 60 g/dia). Foi observado que pacientes mais novos obtiveram maior facilidade em alcançar o consumo adequado, e que o tempo de cirurgia foi maior para os pacientes que consumiram abaixo do recomendado. Além disso, foi encontrada associação positiva entre a massa livre de gordura e o gasto energético em repouso. |