Infecção natural e ocorrência de mosquitos (Diptera: Culicidae) em áreas com epizootias de febre amarela em Goiânia-GO, 2020-2021

Abstract

Introdução: O Ministério da Saúde confirmou no período de julho de 2014 a junho de 2019, a ocorrência de 2.260 casos humanos de Febre Amarela (FA), com 773 óbitos no Brasil. Destes, 10 casos humanos ocorreram no Estado de Goiás, sendo um caso humano no município de Goiânia/GO. Já no ano período de julho de 2020 a junho de 2021, no Estado de Goiás foram confirmadas 21 epizootias de primatas não humanos (PNHs), sendo 11 destas no município de Goiânia/GO. Não houve confirmação de casos humanos. A detecção recorrente da circulação viral no município exige uma ampliação da vigilância de casos humanos e entomológica, visando identificar oportunamente os potenciais vetores e monitorar o risco de reurbanização. Objetivo: Analisar a ocorrência e a infecção natural das espécies de mosquitos (Diptera: Culicidae) coletados em áreas com epizootias de PNH confirmadas, no município de Goiânia, no período de monitoramento de julho de 2020 a junho 2021. Metodologia: Trata-se de um estudo ecológico, descritivo, retrospectivo, quantitativo e qualitativo da fauna de mosquitos potencialmente vetores de arboviroses, realizado em áreas no município de Goiânia/GO durante a ocorrência de epizootias confirmadas para FA em PNH. As coletas de culicídeos foram realizadas no período de 18/11/2020 a 27/04/2021, das 09:00 às 15:00 horas, em 10 áreas que possuíam condições ecológicas e ambientais favoráveis a presença do vírus da FA. A identificação dos mosquitos foi realizada no mesmo dia da coleta com uso de microscópio estereoscópico em mesa refrigerada. Posteriormente, foram encaminhados ao Laboratório Central da Saúde Pública de Goiás (LACEN-GO) para envio aos laboratórios de referência da rede. O diagnóstico molecular do vírus amarílico foi realizado no Laboratório de Biologia Molecular da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas e Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A localização das espécies de mosquitos coletados foi mapeada por meio do software ‘’Google My Maps’’ associado aos dados georreferenciados das epizootias no sistema de informação em saúde silvestre - SISS-Geo. Resultados: Foram coletados 2787 culicídeos, distribuídos em 08 gêneros e 23 espécies. As espécies do gênero Haemagogus ocorreram em 100% das áreas coletadas, Sabethes em 80% e Aedes albopictus e/ou Aedes aegypti em 90% das localidades. Hg. janthinomys e Hg. leucocelaenus foram coletados principalmente em áreas de mata primária com abundância de 2,66% (74) e 4,49% (125), respectivamente. Sabethes albiprivus com abundância de 1% (28), foram coletados em proporções semelhantes nas áreas de mata primária e degradada. Sabethes chlropterus com 0,1% (03) e Sabethes glaucodaemon com 0,29% (08) foram detectadas em mata degradada. Registra-se a ocorrência inédita dessa última espécie no município de Goiânia/GO. Aedes albopictus e Aedes aegypti foram coletados principalmente em área de mata degradada com abundância de 3,88% (108) e 19,66% (548), respectivamente. A infecção natural nos mosquitos não foi detectada nas amostras analisadas. O mapeamento dos pontos de coletas permitiu a classificação das áreas receptivas e vulneráveis para circulação do vírus da FA que deverão ser monitoradas de forma permanente. Conclusões: O município de Goiânia/GO apresentou elevada vulnerabilidade e receptividade para a circulação do vírus da FA, tendo em vista que Hg. janthinomys, Hg. leucocelaenus, Sa. albiprivus, Sa. chlropterus e Sa. glaucodaemon foram detectados nas áreas com epizootias confirmadas de PNHs. A não detecção do vírus da FA em mosquitos demonstra a necessidade de coletas em tempo oportuno para auxiliar na tomada de decisões em relação as medidas de vigilância, prevenção e controle da FA.