Concordância verbal em músicas do gênero funk como input no desenvolvimento da língua escrita

Abstract

Neste artigo, busca-se investigar o uso da concordância verbal em músicas do gênero funk como input para o desenvolvimento da língua escrita de falantes do português brasileiro, considerando a imersão em contextos sociais diversificados, em que se destaca o acesso frequente a esse estilo musical. O trabalho se baseia nos estudos de Kato (2005), — que desenvolve a hipótese sobre a natureza do conhecimento linguístico do letrado, comparando o desenvolvimento da língua escrita à aquisição de uma segunda língua, em confronto coma formação da gramática nuclear proposta por Chomsky (1981) — e de Vieira e Pires (2012), —que apresentam um levantamento das ocorrências da concordância verbal em redações de vestibular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em que constatam a concordância variável, embora a conformidade com a norma padrão ocorra na maioria dos casos, o que é explicado pela situação de alto grau de monitoração linguística —, além de uma comparação de como o assunto é apresentado na gramática normativa de Cunha e Cintra (2016). Assumindo a hipótese de Kato (2005), de que as músicas funk são input para a formação da gramática nuclear do falante, verificamos que as estruturas não convergentes de concordância verbal nos dados coletados das músicas funk não coincidem com as que ocorrem nas redações do vestibular, confirmando-se o papel dos gêneros textuais e a relevância da escolarização na afirmação da norma padrão. Dessa forma, constatamos a possibilidade de abertura de estudos futuros voltados para investigação de fatores de favorecimento da ausência de marcação morfológica de concordância verbal constantemente encontrada na oralidade.