A cannabis sativa no discurso "Fumadores de maconha : efeitos e males do vício" e sua relação com a representação da planta para a sociedade brasileira

Abstract

O tema deste trabalho é a cannabis sativa, uma planta que, apesar de ter relações antigas com os humanos, passou por um processo de depreciação pelas classes médicas do mundo todo a partir do fim do século XIX. O discurso “Fumadores de maconha: efeitos e males do vício” representa momento fundamental para compreender a história da planta no Brasil. Ele é considerado o primeiro trabalho científico sobre a planta e pode-se perceber aspectos da conjuntura do país através da análise de seu discurso. Ele deprecia várias classes sociais do Brasil republicano, de forma que se apresenta a fronteira entre o branco civilizado e o negro selvagem. É possível perceber diversos aspectos representativos da sociedade republicana no discurso e como a visão negativa da planta, que levou à sua proibição, parte de um imaginário baseado no mito e no senso comum que relaciona o consumo da planta aos povos africanos. A ideologia positivista também se encontra presente no discurso, exaltando a ciência em oposição a costumes “perniciosos”, que impediriam o progresso da nação. Assim, o discurso proibicionista se relaciona à questão dos libertos que o Estado republicano lidou a partir de concepções positivistas.