Associação entre a glicemia em jejum e o consumo de bebidas açucaradas em gestantes atendidas na Atenção Primária à Saúde no Distrito Federal

Abstract

Introdução: A gestação é um período de adaptações fisiológicas, metabólicas e nutricionais. Portanto, uma dieta inadequada durante a gestação pode estar associada a eventos adversos na gravidez, então a adequação da qualidade da dieta é importante para o correto desenvolvimento do bebê e da gestante. Contudo, houve um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados pela população feminina em idade reprodutiva nos últimos anos, consequentemente houve também o aumento da ingestão de bebidas açucaradas. O consumo destas bebidas prevê ganho excessivo de peso, síndrome metabólica e diabetes tipo 2 nas gestantes, além de estarem associadas ao crescimento na taxa de parto prematuro. Ainda está positivamente associado a pior qualidade da dieta, maior consumo de alimentos com alta densidade energética e a inferior ingestão de várias vitaminas e minerais em adultos. No entanto, apesar do crescente interesse em reduzir o consumo de bebidas açucaradas e dos malefícios das práticas alimentares inadequadas, ainda são escassos estudos que investigaram o consumo de bebidas açucaradas em gestantes. Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre o variáveis antropométricas e consumo de bebidas açucaradas e a glicemia em jejum de gestantes atendidas na Atenção Primária à Saúde o Distrito Federal. Métodos: Trata-se de um estudo observacional transversal, derivado do projeto “Estado nutricional de iodo, sódio e potássio no grupo materno-infantil brasileiro: um estudo multicêntrico”. Foram avaliadas gestantes adultas de diferentes idades gestacionais que estão em acompanhamento pré-natal em Unidades Básicas de Saúde do Distrito Federal. Foram coletados dados por dois questionários, sendo o primeiro com informações da gestação, dados socioeconômicos e estado nutricional, o segundo questionário oletou informações sobre o consumo dos alimentos marcadores de padrão saudável e não saudável das últimas 24h usado pelo Vigitel. O estado nutricional, índice de massa corpórea, ganho de peso gestacional e frequência de consumo de bebidas açucaradas foi avaliado. Os resultados foram analisados usando o teste Chi-quadrado para variáveis categóricas e teste Mann-Whitney para variáveis contínuas. O nível de significância foi estabelecido com p < 0,05. Resultados: Foram incluídas no total 200 gestantes com mediana e idade de 28 anos (min 16-max 50), a maioria das gestantes se autodeclaram pardas e possuem ensino médio completo. A renda familiar mais prevalente entre as gestantes está acima de um salário mínimo, sendo que apenas 14,2% (9,6 - 19,3) são beneficiárias de programas governamentais e a maioria considera o parceiro como chefe de domicílio. A prevalência de tabagismo e etilismo nas gestantes foi identificada em 3,6% e 11,2%, respectivamente. Em sua maioria as gestantes entrevistadas estavam no segundo ou terceiro trimestre de gestação. Em relação ao estado nutricional, 53,8% (45,7 - 61,3) foram classificadas como eutróficas, tanto no momento pré-gestacional como durante a atual gestação. O ganho de peso gestacional foi considerado como adequado. A maioria das gestantes entrevistadas não consumiu bebidas açucaradas no dia anterior sendo a prevalência de 70,0% (63,0 - 76,0) para refrigerantes, 78,5% (72,5 - 84,0) para suco de fruta em caixa, caixinha ou lata ou refresco em pó e 76,0 % (69,5 - 82,5) para bebida achocolatada ou iogurte com sabor. A mediana da glicemia em jejum foi estabelecida em 80,0 (60,0 - 189,0), e quando categorizadas de acordo com a mediana, não foram encontradas diferenças significativas nos parâmetros antropométricos e clínicos das gestantes analisadas. Também não foi encontrada associação entre consumo de bebidas açucaradas e glicemia em jejum das gestantes. Os resultados do presente estudo ao descrever o perfil socioeconômico, demográfico e nutricional das gestantes indicam a formação educacional mínima completa das gestantes, contribuindo para o maior nível de instrução e acesso a informações, melhorando o senso crítico. Desta forma, pode-se sugerir que as gestantes buscaram melhores escolhas alimentares ao longo da gestação, indicadas pelas baixas prevalências no consumo de bebidas açucaradas, e também pela classificação do estado nutricional e ganho de peso gestacional como adequados. No entanto, não foi encontrada associação entre consumo de bebidas açucaradas e glicemia em jejum das gestantes, podendo ser justificada pelas limitações deste estudo como o desenho transversal, que não infere causalidade, dados antropométricos coletados a partir de informações da caderneta de gestantes, que não refletem consumo usal, e a suspensão da coleta de dados durante um ano devido a pandemia, o que limitou o poder amostral. Conclusão: As gestantes apresentaram estado nutricional, ganho de peso e glicemia em jejum adequados, além da baixa prevalência no consumo de bebidas açucaradas. Não foram encontradas associações entre o consumo de bebidas açucaradas e glicemia em jejum nas gestantes atendidas na Atenção Primária à Saúde no DF.