Resumo: | Há algum tempo se observa que o engajamento dos jovens, em especial de alunos de ensino médio, é marcadamente baixo nas aulas de literatura. A partir de um fórum comum a turma de licenciatura em Letras, constatamos um padrão curioso: grande parte dos alunos que se dizem leitores não são, ou não foram, leitores escolares. Paralelamente, autores dentro da própria crítica literária, como Todorov e Felski, identificam um afastamento entre os estudos literários e a leitura, os leitores e o tempo presente. Este trabalho se configura como resposta, então, a um desejo de aproximar o leitor e a aula de literatura. Fala-se muito das limitações do cânone literário — discussão que, sem intenção, muitas vezes acaba por desconsiderar uma questão mais enraizada e, também, mais problemática no ensino literário que é a própria concepção do objeto literário como objeto estático no tempo. Pensando nisso, apostamos, nesse trabalho, numa proposta de ensino voltada para a transtemporalidade textual, conceito que tomamos emprestado de Felski (2015) e definimos como a capacidade do texto literário de transitar pelo tempo. Procurando evitar um discurso puramente teórico, buscamos apostas e estratégias para despertar a vontade de ler na escola, e exemplos práticos. Como criar as condições propícias para que os alunos de hoje estabeleçam conexões pessoais com os textos literários clássicos? Procuramos responder essa pergunta olhando para dois grandes eixos do processo de escolarização da leitura: 1)motivação, sobretudo por meio de um diálogo entre as obras clássicas e a cultura contemporânea, e 2)avaliação em um sentido amplo, pensando na utilização de recursos literários para equipar os alunos para fazerem suas próprias leituras e análises literárias. Exemplificamos nossa proposta ao longo do trabalho como Julius Caesar, de Shakespeare. E concluímos que, se há caminhos a experimentar e trilhar, a culpa das falhas na formação de leitores não é das estrelas. |