Referência: | ANTUN, Isabel Uessugue. Entre fronteiras e deslocamentos: estranhamentos em Shirin Neshat, Mona Hatoum e Tanja Ostojić. 2020. 51 f., il. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Teoria, Crítica e História da Arte)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020. |
Resumo: | Para discutir os temas de deslocamento, território e limite nas produções de
Shirin Neshat e Mona Hatoum no primeiro capítulo e Tanja Ostojić no segundo, foram
estudadas concepções da psicanálise e da teoria e história da arte contemporânea,
além de feita uma investigação da vida pessoal e profissional das artistas
selecionadas.
No primeiro momento, são levantadas reflexões em torno de conceitos como a
escrita em sobreposição, a cena dentro da cena e o alcance através da língua inglesa
“o idioma universal” para analisar a série de Neshat Women of Allah, seu primeiro
grande projeto artístico com autorretratos e corpos iranianos. As duas primeiras
artistas apresentadas no primeiro capítulo foram exiladas quando jovens, tiveram que
conviver em territórios estrangeiros com idiomas secundários e longe de seus entes
queridos.
A seguir, é apresentada Hatoum em sua obra midiática Measures of Distance,
que dialoga com o trabalho anterior de Neshat em profundas camadas. Algumas delas
seriam a composição ortográfica presente no vídeo, os elementos cromáticos
inexpressivos e o engajamento de um posicionamento diante do papel de estrangeira
árabe no processo de entendimento de todas as adversidades que se apresentam
diante delas.
Em ambas obras, o conceito de cena dentro da cena é utilizado como reflexão
para pensar em projeção de si e relações entre realidade e ficção, além do que se
percebe nas obras como elementos que ocasionam estranhamento estudado por
Freud. Turbulent, também de Neshat, conclui o capítulo e as discussões do manifesto
da voz da mulher e seu poder nas diferentes abordagens artísticas, e como a artista
arrisca aproximar-se do ambiente cinematográfico através desse trabalho. Aqui, são
costurados elementos da obra com o conceito freudiano de pulsão de morte.
No segundo capítulo, passamos pelo conceito de não-lugares por Marc Augé a
fim de uma aproximação dos trabalhos performáticos e documentais de Tanja Ostojić,
introduzindo o assunto com a obra Misplaced Women?. Novamente com a noção do
que é real ou fictício atravessada, é apresentado como a última artista é conciliada
com a pesquisa, de maneira que seus deslocamentos não partiram de uma condição
de exílio, mas da dissolução de seu país de origem que a estimulou para estar sempre
em movimento, questionando as burocracias entre fronteiras, as conjunturas
desprezíveis das quais mulheres são coagidas e investigando suas próprias limitações
como artista estrangeira.
A segunda obra, After Courbet, nos permite refletir sobre o duplo freudiano
como operação artística, como é desenvolvida a sensação de repulsa intencional que
investe ao público e a provocação à censura do corpo e da arte, além da crítica ao
nacionalismo estrutural incoerente e, na realidade da artista, utópico. Por fim, em
Looking for a Husband with EU Passport, Ostojić promove um projeto irônico e
detalhado que é apresentado juntamente com considerações dos termos Bobo da
Corte Vigarista e Forasteiro desenvolvido pela artista e historiadora da arte Cecilia
Mori Cruz, termo de sua pesquisa de doutorado que dialoga sobre o temperamento
daquele que busca subverter as esferas limitantes, além de reflexões do olhar do
estrangeiro do filósofo Nelson Brissac Peixoto.
Assim, com referências psicanalíticas, antropológicas e dentre outras, é
concluída a pesquisa de um exercício do olhar para produções artísticas
contemporâneas de três mulheres não ocidentais a fim de abraçar, estudar e
compartilhar conhecimento a partir de inquietações culturais e coletivas que geram
execuções visuais de grandezas e demarcações ilimitadas. |