Docentes engenheiras : onde a conta não fecha

Abstract

O presente trabalho de conclusão de curso traçou um perfil sociológico e investigou as vivências e trajetórias das professoras dos cursos de engenharia da Universidade de Brasília (UnB). As engenharias compõem um ambiente em que há predominância masculina e que dificulta a ascensão de mulheres que optam por essa carreira dentro da academia. Levando em conta as diversas categorias interconectadas às quais essas mulheres estão ligadas e como as diferenças atuam de forma a criar obstáculos e desafios, o objetivo central desta pesquisa foi entender quem são as mulheres que alcançam tal cargo, que identidades elas carregam, o que as levou a escolher esta carreira e suas vivências enquanto docentes da referida universidade. Além de discussão teórica de temas que abrangem mulheres em áreas de exatas e engenharias, intersecção de gênero, raça e classe, trajetórias educacionais, etc., os procedimentos metodológicos contaram com coleta de dados a partir de um questionário on-line enviado aos e-mails das docentes, obtidos através de portais oficiais da universidade e com entrevistas individuais e em profundidade, também realizadas de forma virtual, com algumas das respondentes do questionário selecionadas a partir de critérios que incluíram, entre outros, idade, raça, maternidade e tipo de ensino básico (público/privado). Foi possível constatar que as mulheres docentes de engenharia estão em desvantagem numérica em relação aos homens, o que vai ao encontro dos dados de outros pesquisadores dentro deste tema. O perfil predominante entre elas é o de mulheres brancas, provenientes de família favorecida economicamente, com pais que possuem alta escolaridade. Essas mulheres também tiveram modelos como grandes influentes em sua decisão de seguir na área das engenharias, representados na figura do pai ou de professoras das áreas de exatas no nível básico de ensino. Elas relataram situações discriminatórias da ordem de gênero ao longo de suas trajetórias, especialmente na graduação, embora algumas delas só tenham percebido isso anos depois. A misoginia que se queixam enquanto professoras envolve principalmente o desmerecimento de seu trabalho e a falta de atenção em suas falas e opiniões. Destaca-se a importância de grupos de mulheres nas engenharias como rede de apoio para elas, além da docência como instrumento de formação de novos/as engenheiros/as mais conscientes das desigualdades dentro das engenharias. Todas elas salientaram a importância de se ter mais mulheres nas engenharias para que esse se torne um ambiente mais igualitário e de convivência mais fácil.