Resumo: | O objetivo desta pesquisa foi analisar a importância da Indústria 4.0 para o
reposicionamento econômico dos Estados Unidos na economia global no período de
2001 a 2020. Nestas duas décadas o Estado norte-americano apoiou maciçamente a
pesquisa e desenvolvimento (P&D) a fim de engajar as empresas e os demais agentes
nesse novo ciclo tecnológico/onda de inovação. Assim como no período precedente
que caracterizou a revolução científica tecnológica (HARVEY, 1989) a partir dos anos
1970, novamente o Estado mostra-se um ator decisivo na corrida tecnológica.
A Indústria 4.0 significa a transformações nos distintos campos da produção e
do conhecimento, isto é, caracteriza-se pela fusão de tecnologias que estão rompendo
as barreiras entre as esferas físicas, digitais e biológicas (SCHWAB, 2015). De acordo
com o autor, as principais características desta Indústria são a velocidade de
inovação, escopo e o impacto sobre a economia global. Neste modelo de produção,
a inovação se dá de maneira exponencial e transforma os modos de produção e a
maneira de gerenciar.
Assim, para compreender quais são as implicações geopolíticas sobre a
liderança dos Estados Unidos no âmbito do capitalismo global, é importante
destacarmos que na virada dos anos 1970 para 1980 sua liderança era contestada no
campo capitalista. Conforme Brenner (2003) ao longo dos anos 1980, os EUA
operaram uma reviravolta tanto no setor manufatureiro como nas finanças. O
resultado da estratégia política-comercial do governo Reagan obteve sucesso fazendo
com que os EUA contornassem com êxito parte das pressões sistêmicas e abriu
caminho para os “exuberantes” anos 1990 (STIGLITZ, 2003). No século XXI as
pressões sobre a capacidade de liderança do capitalismo global se repõem,
sobretudo, pela ascensão de novas potências tecnológicas como a China.
A hegemonia dos Estados Unidos após 1945 ancorou-se na nova arquitetura
financeira e econômica na qual o dólar assumiu papel central na economia mundial.
Entre 1945 e 1973, eles exerceram uma pax nas relações internacionais. A pujança
da sua economia representou um período de prosperidade e crescimento do bem-
estar assim como pôs em evidência o domínio de suas empresas em diversos setores.
Esta reorganização da economia mundial sob a liderança dos EUA também
ancorou-se, na sua capacidade militar ofensiva como garantia da manutenção de sua
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posição no sistema internacional. Nos anos 1970 com a difusão da ideologia
neoliberal, o redisciplinamento da periferia, o início dos programas de ajuste estrutural
das economias endividadas, marcam uma reviravolta profunda no capitalismo global
(FIORI, 2014).
Estas transformações estão na base do processo de globalização. A ênfase
dos EUA no desenvolvimento de novas tecnologias a fim de reposicionar suas
empresas e com isso assegurar a liderança tecnológica nos setores mais rentáveis
novamente conduz ao forte investimento estatal em pesquisa por meio de agências
governamentais (MAZZUCATO, 2011). Entretanto, uma peça fundamental nesse
cenário, no que se diz respeito à desafiante desse título, é a China. A ascensão
chinesa no âmbito internacional num cenário cada vez mais globalizado é um dos
empecilhos enfrentados pelos EUA na atual indústria 4.0. |