Saneamento básico no Brasil em meio à crise sanitária da Covid-19 : possíveis riscos ao ambiente e a populações vulneráveis?

Abstract

Até o início de maio de 2021, foram registrados mais de 150 milhões de casos de infecção pelo novo coronavírus ao redor do mundo, ocasionando a morte de mais de 400 mil pessoas somente no Brasil. Os Coronavírus são conhecidos por apresentarem uma estrutura semelhante a uma coroa formada por proteínas (peplômeros) presentes na superfície do envelope viral, e possuem como principal forma de transmissão o contato direto de gotículas infectadas expelidas pelas vias respiratórias com a mucosa oral, nasal ou conjuntiva. A presença de material genético viral nas fezes de pacientes infectados levantou questionamentos a respeito da possibilidade de infecção por vias alternativas, neste caso a via fecal-oral. Tal questionamento é de elevada relevância considerando-se que muitos países, assim como o Brasil, possuem uma grande disparidade no que se refere ao atendimento da população quanto aos serviços de abastecimento de água e, principalmente, de coleta e tratamento de esgoto sanitário. Por meio de uma pesquisa de abordagem qualitativa, foi possível analisar que, as etapas de tratamento de esgotos empregadas nas ETEs do país são suficientes para remover boa parte dos organismos patogênicos, incluindo os coronavírus, que possam estar presentes no meio. E mesmo nos locais onde o saneamento é escasso, a própria composição do esgoto pode ser suficiente para inativação do vírus causador da Covid-19, visto que o envelope lipídico é mais suscetível à degradação neste meio. Portanto, sugere-se que é pouco provável que a via feco-oral seja, isoladamente, uma rota importante de infecção comunitária pelo SARSCoV-2, visto que a vulnerabilidade na saúde das populações que residem nas regiões com saneamento escasso, também está associada a fatores como a falta de políticas públicas e baixas condições socioeconômicas e de moradia. Mas o entendimento acerca do comportamento do novo coronavírus no meio ambiente, se mostra uma importante ferramenta não só para contenção da disseminação, mas também para prevenção ao surgimento de novas doenças e eventuais futuras pandemias.