Desfazendo a cortina de fumaça : uma análise epistemológica do termo contabilidade criativa

Abstract

O presente estudo tem como objetivo analisar a percepção de estudantes e profissionais contábeis a respeito do termo contabilidade criativa, à luz da epistemologia. Na primeira etapa da pesquisa, foi efetuado levantamento na literatura e realizadas entrevistas abertas com dois especialistas (um do setor público e um do setor privado), que aplicam esses conceitos e usos no dia-a-dia de sua atuação profissional. Na segunda etapa, foram aplicados questionários estruturados, elaborados a partir dos resultados da primeira etapa, para estudantes de graduação do curso de Ciências Contábeis e para profissionais contábeis com registro ativo no Conselho Regional de Contabilidade no ano de 2019. A revisão da literatura mostrou que há contradições na interpretação dos conceitos/usos associados do termo “contabilidade criativa”, sobressaindo quatro conceitos/usos a ele associados - fraude, erro, gerenciamento de resultado e aprimoramento de resultado - e que existe uma subjetividade inerente a alguns elementos contábeis, o que deixa a sua natureza pouco clara, difícil de medir, classificar e reconhecer. Os resultados das entrevistas apontaram que o uso do termo “contabilidade criativa” expõe os profissionais da área contábil e pode colocar em dúvida a fidedignidade da informação contábil, e que o enforcement da legislação a que os profissionais do Setor Público estão sujeitos e presença de incentivos que podem afetar o comportamento das pessoas podem explicar as situações que levam os profissionais a fazerem registros que suscitam dúvidas quanto à credibilidade e fidedignidade dos números contábeis. Quanto aos questionários aplicados, os resultados mostram que apesar de lidarem com situações que podem ser identificadas aos conceitos já conhecidos pelos estudantes e profissionais, na prática, essa relação não se estabelece, mostrando que paira uma “cortina de fumaça” sobre os conceitos e usos associados ao termo contabilidade criativa. A partir dessa análise, o mais correto seria que o termo contabilidade criativa caísse em desuso, sendo utilizado o termo que mais condiz com a situação.