Resumo: | A obra eleita para este Trabalho de Conclusão de Curso não é feita por mim, é uma apropriação, palavra que não me atraia, porém contém uma grande riqueza teórica que permite uma reflexão sobre a arte contemporânea. Sempre gostei dos cavaletes da aula de pintura na Universidade, os vestígios que neles ficam são testemunhas da trajetória da instituição, dos muitos alunos e professores que trabalham sobre eles, das cambiantes teorias em que se fundam a pintura e seu ensino e das obras que não estão mais lá, contudo deixaram seu rastro. Como são obras sem autor, decidi que, conceitualmente, a autora sou eu, ao atribuir um status de obra de arte a estas peças utilitárias. A apropriação, acho que existe desde que o homem pré histórico pintou animais nas cavernas. Ele estava se apropriando deles, poderia se dizer o mesmo da mimese e da grande tradição da arte ocidental. Como movimento artístico, a apropriação faz sua entrada triunfal com Elaine Sturtevant na década dos 60 quando ela decide “repetir” as obras dos artistas do Pop americano, notoriamente Andy Warhol e Jasper Johns, entre outros. Não se tratava de falsificação, porque a intenção de Sturtevant era criticar a superficialidade do Pop com suas apropriações. Para compreender o que estava acontecendo nos anos 60, é necessário entender a diferença entre modernismo e pós modernismo, assim como as teorias sobre o fim da arte e a morte do autor, que esclarecem como mudou a concepção da arte. Segundo explica Arthur Danto: “ “contemporâneo” [...] não designa um período senão o que acontece depois de terminado um relato legitimador da arte e menos ainda um estilo artístico, do que uma maneira de utilizar estilos.” (DANTO, 2010, p. 32). A galeria Artists Space de Nova Iorque inaugura a exposição Pictures (1977), organizada pelo curador Douglas Crimp, cujo escrito sobre a mostra converte-se no texto paradigmático da apropriação. Desde a revista October, Crimp exerce uma forte influência sobre a Geração Pictures e contribuiu para solidificar a tendência. Os escritos de Craig Owens sobre a alegoria também contribuem para explicar os mecanismos da apropriação e suas conexões psicológicas. Finalmente, e talvez um pouco em reversa, revisamos o contexto teórico com Elena Oliveras, em Estética: a questão da arte, que tem sido uma linha de Ariadne, para conservar o rumo nos labirintos filosóficos da teoria da arte e tentar decifrar o panorama estético do século XX: os conceitos de aura, ready-made, autoria, originalidade e obra de arte no contexto contemporáneo. Para concluir será feita uma retomada histórica da pintura de cavalete e uma análise da obra que escolhemos para este trabalho assim como outras considerações relacionadas com sua poética, à luz dos conceitos de “limites” (Eugenio Trías), obra aberta (Umberto Eco) e Parergon (Jacques Derrida). |