Resumo: | Esta pesquisa está vinculada à temática de gênero, abordando as relações entre mulheres e a discriminação de gênero no contexto de trabalho a partir de uma perspectiva de interação feminina. Como objetivo geral, propôs-se investigar se as relações entre mulheres no âmbito do trabalho são influenciadas pela lógica social machista, pretensão desmembrada em objetivos específicos que englobavam investigar a discriminação entre mulheres no trabalho, levantar indícios de que as entrevistadas tenham sido estimuladas a competir com outras mulheres ou estigmatizá-las, além de verificar a existência de redes de apoio feminino no âmbito laboral. Para tanto, utilizou-se uma abordagem qualitativa, com a realização de entrevistas individuais semiestruturadas com nove mulheres de perfis variados. Os discursos foram analisados de modo a apreender os principais desafios enfrentados pelas entrevistadas, as características da discriminação entre mulheres e da formação de redes de apoio relatadas. Evidenciou-se a ocorrência de discriminação e competição – não raro irrefletida – entre o gênero feminino: reprodução de estereótipos, assédio moral, desqualificação do assédio sexual sofrido por colegas, dupla cobrança em relação a gestoras mulheres, reprodução de comentários machistas e disputas pessoalizadas foram alguns dos contornos da interação feminina. Por outro lado, os achados demonstram que as mulheres também se unem, formando redes de apoio, comumente de forma espontânea. Elementos como o compartilhamento de experiências e conhecimentos estratégicos, o fato de estarem sujeitas aos mesmos desafios e desigualdades, a torcida pelo crescimento das colegas, o estabelecimento de laços pessoais, o incentivo e apoio no enfrentamento de situações difíceis e as discussões acerca de assuntos como feminismo, sororidade e impactos da desigualdade de gênero no dia a dia de trabalho sustentavam essas alianças. Por fim, discutiu-se que os imperativos machistas têm influenciado as interações femininas no trabalho, prejudicando demandas individuais e coletivas na perseguição da igualdade de gênero. Os resultados foram problematizados frente às discussões feministas de sororidade, à necessidade de as empresas se posicionarem frente aos relacionamentos perversos que se estabelecem em seu interior, e às pautas de diversidade que se colocam para as organizações atuais. |