Resumo: | Este trabalho tem como objetivo apresentar uma discussão sobre a apropriação que faz Michel Foucault, em seu últimos trabalhos, de aspectos da ética antiga, com atenção especial para as noções de “cuidado de si” e “cultura de si”. No primeiro capítulo do presente trabalho, buscou-se colocar alguns traços gerais destas duas noções, bem como um pouco da reflexão sobre a moral. Esta leitura feita por Foucault da moral antiga recebeu uma série de críticas, vindas de direções diversas, ocasionadas por motivos distintos. Centrou-se aqui sobre uma crítica articulada por Pierre Hadot no seminário Michel Foucault, em 1988. O trabalho de Hadot está, em sua maioria, focado em estudos do pensamento antigo, e provavelmente exerceu influência sobre os escritos de Michel Foucault. Este ponto é abordado no capítulo II, em torno de dois eixos: o primeiro, referente à leitura foucaultiana dos estóicos, a qual, de acordo com Hadot, teria deixado de lado uma importante dimensão daquela filosofia – em poucas palavras, a do papel que teria nela a idéia de uma racionalidade perfeita, divina, interior a todos os homens. Ou seja, uma crítica em relação à leitura historiográfica empreendida por Foucault. Finalmente, articula-se um segundo eixo, referente à compreensão de Hadot de que Foucault estivesse propondo um modelo ético para a sua época, modelo do qual Hadot desconfia. Voltamo-nos então à questão de se haveria ou não em Foucault esta proposta de reatualização de uma ética antiga, buscando refletir sobre as maneiras em que é possível entender o olhar que ele dirigiu à Antiguidade. |